De novo, a culpa é da imprensa

Por Álvaro Fernandes* As frases e trapalhadas do presidente Lula e do ministro Gushiken no Dia do Jornalista, 7 de abril, levantando temas e …

Por Álvaro Fernandes*
As frases e trapalhadas do presidente Lula e do ministro Gushiken no Dia do Jornalista, 7 de abril, levantando temas e expressões como "?a mais pura verdade conseguida por um repórter?", "ver o lado positivo das coisas" e outros clichês usados em situações em que as fontes de informação se sentem distorcidas ou mal interpretadas, provocaram vários artigos e posicionamentos sobre liberdade de imprensa e interferência governamental na informação.
Pouca coisa se disse, porém, sobre a falta de competência no uso da comunicação que está por trás desse tipo de comportamento, seja no governo ou nas empresas. Seja na relação com a imprensa ou mesmo em uma simples apresentação em um ambiente corporativo. Muitas vezes, na minha experiência de gerenciamento ou de prestação de serviços em comunicação, ouvi de executivos entrevistados por jornalistas expressões como "eu não falei nada disso", "o jornalista tirou isto da cabeça dele". E, na grande maioria dos casos em que acompanhei todo o processo, o desempenho do profissional de imprensa não poderia ter sido diferente. Em vez de "tirar da sua própria cabeça", o jornalista havia colhido aquela frase de uma bravata entusiasmada que tinha escapado num momento de vaidade; ou enfatizado justamente aquilo a que o entrevistado tinha dado mais destaque, ao contrário da sua própria intenção original. Enfim, aquela era, realmente, "a mais pura verdade conseguida" pelo que a fonte havia dito ou deixado entender.
Este comportamento prepotente, de tentar atribuir aos outros o seu próprio erro de comunicação, me lembra a frase de um amigo que, ao receber o convite para o lançamento do meu livro, disse que ele próprio não tinha problemas de comunicação. E emendou, com humor certeiro: "As pessoas é que têm problemas para me entender?" O que falta, a grande parte dos homens públicos e a muitos executivos e pessoas envolvidas com a informação, é humildade para reconhecer que precisam dedicar-se mais à forma que realizam sua comunicação. Comunicar com eficácia pressupõe entender claramente as motivações, características e particularidades de cada público e preparar sua mensagem de acordo com elas. Pressupõe usar a forma mais adequada para aquilo que se quer transmitir e fazê-lo no tempo certo. Mas, acima de tudo, pressupõe entender que a comunicação só se completa se ela produz o efeito desejado no outro. E que o outro tem suas próprias opiniões, valores e forma de ver o mundo.
Um fator essencial a todos que têm na comunicação um instrumento poderoso para um melhor desempenho de suas funções é reconhecer e exercer seu próprio papel para a obtenção de melhores resultados. Seja numa entrevista à imprensa, em uma palestra ou reunião, ou mesmo na redação de um simples e-mail. Afinal, como resumiu o ensaísta norte-americano E.B. White: "Quando você disser uma coisa, certifique-se de que a disse mesmo. As chances de que você a tenha dito são apenas regulares".
* Álvaro Fernandes é jornalista e autor do livro "Quem não tem problemas de Comunicação?"
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