Dois anos de olho na imprensa catarinense

Por Rogério Christofoletti Em meados de 2001, um grupo de professores e alunos iniciava uma experiência que ia se constituir na pioneira em termos …

Por Rogério Christofoletti
Em meados de 2001, um grupo de professores e alunos iniciava uma experiência que ia se constituir na pioneira em termos de crítica de mídia regional. No interior de Santa Catarina, numa universidade privada e de olho num mercado pequeno de comunicação, o Monitor de Mídia surgia como um laboratório de observação das tendências do jornalismo barriga-verde. Com isso, deslizes éticos, incorreções e mesmo pontos positivos do noticiário local seriam destacados pelos olhares atentos da academia numa tentativa de aproximar mundos e contribuir para o aperfeiçoamento da imprensa.
O fato é que este corpo estranho foi bem absorvido pelo mercado e teve boa aceitação na comunidade universitária. Não é exagero dizer que hoje - completados dois anos de projeto - repórteres e editores lêem os diagnósticos produzidos pela equipe do Monitor, e estampam as análises nos quadros de aviso nas redações. Não é exagero dizer que alguns professores utilizam os textos como referência para suas aulas. Mas, mais do que espalhar um olhar preciso sobre o jornalismo local, o Monitor vem prestando um outro serviço: mostrar que a sociedade precisa de instrumentos de avaliação da qualidade dos produtos jornalísticos. E que, quando dispõe deles, recebe-os bem.
O modelo de funcionamento do Monitor é o site Observatório da Imprensa, mas a sua implantação num estado fora do eixo Rio-São Paulo é estratégica para demonstrar que há demandas mais emergenciais na vitrine jornalística brasileira.
O cenário da comunicação no país não dispõe de uma cultura de crítica efetiva dos media. Prova disso são as poucas iniciativas existentes no mercado, que vão de raros ouvidores a escassos esforços de autocrítica. Tal condição é marcada por um conjunto de aspectos que funcionam como empecilhos, coibindo a disseminação de práticas reais e tornando pouco operativos os mecanismos existentes. Os impasses estão incrustados na própria estruturação dos meios de comunicação como sistema de informação e têm fortes raízes na cultura nacional de consumo desses produtos. Os problemas nascem (e se alimentam) na frágil fiscalização do Estado, na obsolescência e ambigüidade de algumas leis, em vícios corporativos do mercado e na insuficiência dos dispositivos reguladores da sociedade. Ambiente que inibe o fortalecimento de condutas éticas.
A estrutura da comunicação brasileira ainda se apóia na concentração e no oligopólio, na brecha da propriedade cruzada, no coronelismo eletrônico e nas concessões praticamente infinitas. Isso restringe o dial, fecha o mercado, vicia certas práticas. Esse estado de coisas aliado à inoperância dos conselhos de comunicação, ao arcaísmo no empresariado e a uma atitude paquidérmica do Estado quanto a uma política pública para o setor, tornam a situação muito complicada.
Há bons sinais de uma tímida, embora crescente, disposição pública para pensar o impacto dos veículos de comunicação na sociabilidade contemporânea. A retomada do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e websites como o Observatório da Imprensa, o Instituto Gutenberg e o S.O.S. Imprensa são alguns sintomas claros desta preocupação. A crítica dos media precisa ser entendida não como pichação deliberada, censura, mutilação ou depredação de conteúdos e programações. A crítica não é modelo, é método, instrumento. Conjunto de dispositivos sem os quais se dissolvem os critérios para uma leitura mais aprofundada da realidade.
Se os meios de comunicação refletem a vida contemporânea e dela fazem parte, criticá-los é focar a própria vitrine das atividades humanas.
O Monitor de Mídia oferece uma limitada, mas convicta, contribuição neste sentido. Completar dois anos num ambiente desfavorável como este já é uma boa marca.
* Rogério Christofoletti é jornalista, professor da Univali e responsável

pelo Monitor de Mídia (http://www.cehcom.univali.br/monitordemidia)

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