Entra para dentro, Coca-Cola

Por Marcos Linhares Estamos realmente a cada dia mais perdidos, ou mais despidos, se me permitem a ousadia. E nossos amigos publicitários têm grande …

Por Marcos Linhares
Estamos realmente a cada dia mais perdidos, ou mais despidos, se me permitem a ousadia. E nossos amigos publicitários têm grande parcela de culpa nessa história ao apelarem para os modismos sem pesarem as conseqüências. Eles não se lembram que o jovem pobre e carente de oportunidades não consegue discernir as ditas "sacadas" do mercado de criação, mas é atingido em cheio.
Explico: fui tomar meu café numa padaria, bem cedinho, quando me deparei com um deplorável cartaz com a frase "morena gelada". Até aí, tudo bem. Contudo, qual não foi minha surpresa quando li o complemento: "(?) sai fora".
"Entram para dentro" do mau exemplo, a Coca-cola e seus publicitários que contribuem para uma juventude pior. Que consagram uma expressão esdrúxula e totalmente redundante. Vamos subir para cima desse morro, que eu morro de vergonha. Também morro de vontade de perguntar o que aconteceria com uma empresa brasileira se fosse para os "States" e avacalhasse o idioma deles?
Bem, no mesmo rastro de desrespeito com o público vem a produção do programa "Mais Você", apresentado por Ana Maria Braga. Na quarta-feira, dia 19 de novembro, a produção levou um grupo de rapazes para fazer oportunas evoluções e malabarismos com bandeiras. Até aí, sensacional. Só que na hora de escrever a função de um dos rapazes entrevistados, nos deparamos com a incrível profissão de "flagwaver". Isso mesmo. A pobre dona-de-casa deve ter deixado o leite derramar tentando entender. A apresentadora global bem que ainda tentou ajudar, explicando que "flag" significava bandeira? Mas e o tal do "waver"? Deixa para lá, deve ter pensado a pobre doméstica, fã assídua do programa, que desistiu de esquentar a cabeça. Só uma dúvida persistiu: Por que não escrever em português? Será que nossa língua é tão pobre que não houve como achar correspondente? Será que é "brega" escrever na língua que fomos criados, ou mal criados, como queiram os do contra?..
Ou será que era dia da bandeira americana?
A questão é que com a infeliz ajuda da Coca-cola e dos canais de televisão estamos imbecilizando o país. Perdendo a identidade, as digitais, a verdade e a vontade de ser algo. Despretenciosamente, vamos assasinando a língua, os conceitos, os limites e esquecendo do que é verdadeiramente nosso: o respeito. Depois disso, de trangressão em trangressão, chegaremos nos cativeiros, nos sequestros-relâmpagos, nos tiroteios, em gente sendo queimada, em jovens rompendo, retalhando e rindo da justiça. Que justiça..
Tenho medo? Quero "descer para baixo" desse sentimento e poder continuar a sonhar com um país que ainda agite bandeiras e deixe as "flags" e os pleonasmos, em algum lugar distante. Quero mais é ajudar a construir um Brasil que ainda diga com orgulho: Eu amo meu país. Quer "love"? Sai fora!
* Marcos Linhares é jornalista, professor e editor-chefe da Revista Saúde Agora
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