Falas

Por Rogério Teixeira Brodbeck* Existem certas ocasiões em que as manifestações de apreço, efusividade, e gentilezas são absolutamente indispensáveis, segundo as regras de bom …

Por Rogério Teixeira Brodbeck*
Existem certas ocasiões em que as manifestações de apreço, efusividade, e gentilezas são absolutamente indispensáveis, segundo as regras de bom tom. Ocasiões como posses em cargos públicos ou privados, despedidas, velórios, e outras ocasiões sociais em que as regras de convivência apontam para o bom senso.
Duas destas recentes ocasiões, todavia, serviram para que alguns oradores expusessem uma verborragia que constrangeu pessoas presentes aos eventos. Na primeira, o presidente de uma entidade de classe de âmbito estadual, talvez irado com a já de há muito pesada carga de tributos que boa parte da população hoje tem de levar ladeira acima, resolveu chutar o balde e deitar falação, agindo como um elefante numa cristaleira de peças tchecas. E em sua oratória conseguiu a proeza de indignar um seu colega de diretoria que também ali estava sendo empossado e que, contrariado, abandonou o festerê e, dia seguinte, renunciou ao cargo pelo qual sequer havia tomado gosto. O outro constrangido, nada menos do que o governador deste Estado, pródigo em sutilezas e salamaleques, permaneceu impávido mas ao discursar abandonou o escrito e elegantemente rebateu as críticas e depois tornou a seu lugar à mesa, ao lado do irado anfitrião, onde conversaram noite afora (ou a dentro) como se nada tivesse acontecido.
Na outra feita, coube ao presidente de entidade nacional de profissionais do Direito criticar atitudes do governo - por quem, é óbvio, todos sabem não me derreto - como o salário mínimo e reforma do Judiciário (para quem não sabe, o governo, literalmente falando, são os três Poderes, ainda que pareça incrível?) diante de uma seleta platéia composta por integrantes de todos os segmentos ilustres do país, a começar pelo próprio primeiro Magistrado que, aliás, não se sabe se pela fala do causídico ou não, voltou a sentir antiga dor que o aflige de há muito.
A questão não é o que dizer. É, isso sim, muito mais o quando e o onde. Os defensores dessas explosões verborrágicas sustentam que não dizendo nessas ocasiões não terão a repercussão que mereceriam. Os contrários, ao revés, invocam as boas maneiras, a cortesia, a educação enfim. O fato de as visitas, por piores que sejam, deverem ser bem tratadas, não elide que essas mesmas visitas digam o que quiserem no tapete alheio. E não é pelo fato de o presidente da República dizer - e não por raras ocasiões - abobrinhas que nós tenhamos o igual direito de nos vingar quando a S. Exª não é dado o direito de falar. Ou não?
*Rogério Teixeira Brodbeck é jornalks
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