Flodando dedos com tinta

Por Mário Rocha O escrito que segue carece que os leitores atuais tenham lido aquele intitulado “SOS! O que é ‘flodar?’”, e a melhor …

Por Mário Rocha
O escrito que segue carece que os leitores atuais tenham lido aquele intitulado "SOS! O que é 'flodar?'", e a melhor solução é ir ao arquivo recente do Coletiva.net.  Como sei que ninguém vai fazer isso, resumo a coisa toda. Pedi socorro para que alguém me explicasse de que raios, afinal, estas frases recolhidas do Kzuka na ZH estavam tratando: "Avenida Brasil é um baita win: nunca uma novela rendeu tanto nas redes sociais. Memes e gifts flodam as timelines!"
Então tá. Entendi que a novela Avenida Brasil está movimentando internautas. Um sucesso. "Timelines" não pode ser nada muito diferente de linhas de tempo, ou seja, a sequência cronológica da balbúrdia toda. E quanto a "memes", "gifs" e o potencial verbo "flodar"? Significam o quê, além de serem testemunhas mudas da minha santa ignorância?
O momento urge a feitura de uma elipse histórica. Se "flood" é inundação e, portanto, as linhas de tempo nas mensagens postadas sobre a novela ficam repletas de "memes" e "gifs" após cada capítulo, passo a recordar o quanto flodava os dedos com tinta nas oficinas do Correio do Povo lá nos idos de 70, século e milênio passados.
Demorava muito para aquele (eu) editor de fechamento - o "apaga a luz da redação" - obter provas de legendas, títulos, ou leads (aberturas) de notícias para cogitar alterações. O mais simples: escolher a linha de chumbo e antimônio composta ao avesso pela linotipo como nas palavras de uma mensagem refletidas pelo espelho, aplicar um pouco de tinta e tascar o dedo por cima. Um, dois, três, oito dedos; por vezes, até os polegares curtos precisavam entrar em ação.
Dediquei-me a aprender a ler ao contrário, cansado de ter as mãos sujas de tinta. (Situação bem diferente daqueles que já naquela época nunca se constrangiam em sujar as mãos e o corpo todo com o dinheiro do povo.) Ia direto nas linhas de chumbo posicionadas nas ramas. Ali as notícias aguardavam, silentes, pela pressão do flan na calandra que geraria a chapa que iria para a rotativa de onde, finalmente, os jornais sairiam às ruas para gritar os fatos e as versões dos fatos. A inundação de tinta nos meus dedos era necessária e produtiva.
Elipse concluída, explico que, em singelas definições, memes são ideias propagadas na teia de aranha mundial e gifs são imagens com movimento, mas baixa resolução, que permitem evidenciar emoções. Apontar uma inundação de memes e gifs nos fóruns de discussão significa criticar postagens sem conteúdo interessante.  Numerosas, mas bobas, repetitivas, sem sustança.
Hosanas nas alturas! Acho que agora entendi tintim por tintim (nada a ver com Hergé, o Capitão Haddock e os detetives Dupont e Dupond) a intencionalidade da frase recolhida do Kzuka. Não há mais linhas de chumbo nas oficinas de jornais para serem lidas em dedos entintados. Memes e gifs resistirão às décadas, flodando vidas ao longo de gerações?

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