Foi assim (2)

Por Mario de Almeida * Em meu artigo anterior sobre o Teatro de Equipe e o livro “Trem de Volta…”, citei dois casos onde …

Por Mario de Almeida *
Em meu artigo anterior sobre o Teatro de Equipe e o livro "Trem de Volta?", citei dois casos onde Ivette Brandalise e o marido, Milton Mattos, quiseram me colocar em lugares onde nunca estive. Terminei o artigo afirmando que o Milton, filho de duas das mais tradicionais famílias de Livramento, traiu minha confiança, por eu supor, sempre, que ele fosse, também, um fronteiriço.
Aleguei, inclusive, que esse portoalegrense indevido, filho de Her Mattos e Stella Flores da Cunha Mattos, jamais seria perdoado por haver me levado a uma falsa ilação. Aí começou o meu Calvário. Foi cacete e mais cacete (!!!), finalizando com dona Ivette - numa apoteose de ironia - acusando-me de mexer numa casa de marimbondos e de ser um articulista fofoqueiro pois consta, na certidão de nascimento do Milton, que ele é filho de Marina e não da irmã dela, a tia Stella. Tripudiando sobre o escorregão dessa memória esgarçada, Ivette, não satisfeita, afirma que o Milton, até hoje, só teve uma mãe e que ele nem admite discutir a hipótese de uma eventual bimaternidade. E, ainda, me manda, pela Ivette, um recado que é puro proselitismo, ou seja, que 9 meses antes de nascer já era contra os transgênicos.
A acusação foi encerrada, pois eu, mais acuado que rato em guampa, arrependido de não ser maneta, dei as mãos à palmatória.
Quem é jornalista sabe quanto dói publicar um desmentido. Certa vez, ainda no século XIX, um cidadão, lendo a notícia de sua morte no Times de Londres, foi à redação do mesmo dizer-se vivo. Dia seguinte, à cata do desmentido, deu de cara com a notícia de seu nascimento!
Voltando ao artigo anterior sobre o livro que Rafael Guimaraens e eu, mais companheiros do Teatro de Equipe, lançamos no último Porto Alegre em Cena, quero contar como as coisas foram sendo costuradas e, por um passe de mágica temporal, fundadores e participantes do Teatro de Equipe, residentes no Rio, em São Paulo, Brasília e Porto Alegre se reuniram, 45 anos depois da fundação do grupo, em duas noites memoráveis no Theatro São Pedro, em cujo palco, inclusive, haviam estreado seu primeiro espetáculo.
Ramiro Silveira e sua equipe resolveram que nesta 10ª versão do maior evento brasileiro de teatro, seria prestada uma homenagem ao Equipe, fundado em 1958 e que, dois anos depois, inaugurava sua própria casa de espetáculos na General Vitorino, 312.
Eu estava em Porto Alegre, cuidando com o parceiro Rafael e a programadora visual - também editora do nosso livro - Clô Barcellos, de assuntos referentes ao mesmo, e marcou-se um almoço em casa do casal Ivette-Milton para discutir detalhes da homenagem e do lançamento do livro.
Resolveu-se fazer uma exposição com o material remanescente daquele tempos, aos cuidados da Clô e do Milton. Dona Eva Sofher seria consultada para ceder o foyer do São Pedro para a exposição e noite de autógrafos. Ivette Brandalise inventou um happening e sobrou para mim "inventar" o referido, reunir o pessoal disponível e coordenar o improviso menos improvisado do mundo. Daí surgiu a necessidade de passar para o público mais jovem, através de contemporâneos do convívio na General Vitorino, uma idéia da Porto Alegre artística e cultural no final dos anos 50 e na virada da década seguinte. Resumo: exposição, coquetel, performance e lançamento de "Trem de Volta - Teatro de Equipe", dia 15 de setembro e, dia 16, o tal Painel, no mesmo foyer.
Na volta para o Rio, ainda em março, comecei a consultar o antigo povo do Equipe espalhado por São Paulo, Rio e Brasília, como Nilda Maria e Fernando Peixoto, em São Paulo, Orlando Carlos e o irmão, Paulo José, Luiz Carlos Maciel e Ittala Nandi, mais gente que conviveu conosco no Equipe, o já saudoso professor e filósofo Gerd Bornheim, mais os ativos jornalistas José Monserrat Filho e Léo Schlafman, todos "cariocas", e Ailema e Glênio Bianchetti em Brasília. Na ponte aérea Rio-São Paulo-Rio, o caçula do grupo, Paulo César Peréio. A poeta Lara de Lemos, tristemente entrevada em Nova Friburgo, já havia mandado seu testemunho sobre o Equipe e, dos citados, ninguém se esquivou de entregar o seu, assim como Edy Lima, a escritora que depois de anos no Rio, voltara a morar em São Paulo. Esses registros e dos gaúchos que fizeram do Equipe sua casa de trabalho, de convívio, de cultura e de cidadania, mais depoimentos prestados no Painel de 2001, resultaram num alentado apêndice do "Trem de Volta - Teatro de Equipe" onde, além dos citados, estão presentes Ivette Brandalise, Moema Brum, Olga Reverbel, Fernando Castro, Flávio Loureiro Chaves, Flávio Tavares, Henrique Fuhro, Hiron Goidanich, Irineu Breitman, Léo Dexheimer, Milton Mattos, Moacyr Scliar e Rui Spohr, além de uma extensa matéria assinada por Ruy Carlos Ostermann às vésperas da estréia da peça de minha autoria, "O Despacho".
Setembro chegou e a gente sabia que ia rolar muita adrenalina nesse reencontro. A gente sabia, mas rolou muito mais do que a gente já sabia. E se você também quiser saber, aguarde o próximo artigo.
Nossos comerciais, por favor!
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e co-autor, com Rafael Guimaraens, do recém lançado "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos)
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