Fome (3)

Por Mario de Almeida* Quando iniciei esta série Fome, pensei escrever o segundo artigo sobre a excepcional figura de Josué de Castro, brasileiro que …

Por Mario de Almeida*
Quando iniciei esta série Fome, pensei escrever o segundo artigo sobre a excepcional figura de Josué de Castro, brasileiro que levou a discussão do assunto à ONU.
Fui atropelado, conforme escrevi, pela criação do Ministério do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome e pela entrega da pasta a Patrus Ananias, ex-prefeito de Belo Horizonte, que criou e administrou com sucesso, diversos programas diretamente ligados aos exclusos sociais dos direitos básicos.
O jornalista Elio Gaspari, após apresentar em sua coluna dominical as magníficas credenciais do novo ministro, voltou ao assunto, dias depois, e publicou um artigo cujo título já é sua síntese: "Patrus Ananias é uma esperança".
Escrevi, também, que Patrus já anunciara que iria discutir os problemas do Fome Zero com dois de seus críticos de peso: Zilda Arns, da Pastoral da Criança, e dom Mauro Morelli, bispo de Caxias, RJ, integrante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar. Pois bem, ministro e bispo já se encontraram e dom Mauro considera que o primeiro ano do Fome Zero foi um ensaio e que o programa precisa ainda melhorar muito. Transcrevo aqui palavras do bispo - a mesma idéia que justifica e foi minha maior motivação para iniciar essa série: "A sociedade brasileira tem que entrar para valer no projeto e os governos estaduais e municipais também precisam aderir ao Fome Zero". Sempre achei que quando se fala em exclusos sociais é óbvio que a sociedade é cúmplice do Estado nessa exclusão.
No encontro do ministro com o bispo, este elogiou a nomeação de Patrus para o cargo e já colocou pimenta no cardápio da classe política: "Precisa ser criado no país um Sistema Brasileiro de Segurança Alimentar Nutricional e Sustentável. Mas é preciso que o Congresso Nacional aprove uma lei orgânica para esse setor".
Na mesma semana, os compositores Roberto Menescal e Abel Silva, que criaram o hino da Fome Zero assistiram, com o ministro Gilberto Gil, à frente, à gravação dos futuros DVD e CD que serão vendidos em benefício do programa. No coro, cerca de 30 vozes, entre outras, as oitoi do Quarteto em Cy e MPB4, mais as de Leila Pinheiro, Jorge Benjor, Jorge Mautner, Jorge Vercillo, Carlinhos Lyra, Macalé, Marcos Valle, Beto Guedes, Geraldo Azevedo e Os Cariocas. Coisa parecida só me lembro de "Chega de Mágoa", de 1985, em prol das vítimas de uma terrível seca no Nordeste. Daquela gravação, por um coro de cobras, só ficou, depois, a mágoa das perdas de Elizeth Cardoso e Tim Maia.
Ainda na semana, 30.01, em Genebra, por iniciativa de Lula, os presidentes da França, Jorge Chirac, do Chile, Ricardo Lagos, e o secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, aprovaram uma "Declaração de Ação contra a fome e a pobreza".
Já que chegamos à ONU, chegaríamos, afinal, a Josué, não fora o espaço? Lembrei-me do final do soneto de Camões cantando o amor de Jacó por Rachel: "Não fora tão longo amor tão curta a vida".
Pode ter ficado uma pergunta ao leitor interessado especificamente em Comunicação: onde entra Coletiva.net nesse assunto? Respondo, sem citar os compromissos éticos de todos nós: se Coletiva.net é digital, digite www.clickfome.com e garanta a um faminto um prato de comida a ser pago por um dos patrocinadores do site.
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e co-autor, com Rafael Guimaraens, de "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos)
[email protected]

Comentários