Francisco, o Papa da propaganda

Por João Firme

Este case é o meu grande relicário. No tempo da rádio Difusora, que se tornou Bandeirantes na década de 1990, vendi o patrocínio da novela "Os Muckers" que tinha como figura central uma mulher guerreira chamada Jacobina, que vivia no morro do Ferrabraz (próximo a Campo Bom e Sapiranga). Por ter a vida parecida como a de Maria Madalena, dizia-se que sua criança no ventre era filho de Satanás e uma seita a matou quando nasceu, segundo conta Luiz Coronel, publicitário, escritor e poeta.

Vivi na novela como radioator o papel do Papa que queria a paz e contra qualquer tipo de interrupção da vida. Ao ler o script, no ensaio, reclamei do autor, advogado Fávaro, que o Papa não tinha nome e sugeri que se chamasse Francisco em homenagem ao meu pai, que nasceu em 4 de outubro e eu era devoto de São Francisco de Assis. Quando criança, eu cuidava do gato, do cachorro, da vaca de leite, do cavalo para entrega de mercadorias, de quatro porquinhos e de uma junta de bois para lavrar a terra e plantar mandioca e milho. O diretor da novela aceitou a sugestão e fiquei conhecido na época por Francisco. Orgulho-me disso.

Mais tarde, usando minha carteira de jornalista internacional, programei uma viagem a Roma, saindo de Paris no trem noturno, passando por locais maravilhosos como a Torre de Pisa, obra de engenharia, que, inclinada, mantém-se vencendo as intempéries do tempo. Contando minha história de radioator, agendei com o setor de comunicação da Santa Sé uma audiência para receber uma bênção de Karol Józef Wojty?a, o Papa João Paulo II que, em Porto Alegre, repetia o refrão do povo na Catedral: "O Papa é Gaúcho".

A audiência era na quarta-feira, o dia em que o Papa receberia o povo e meu lugar era na frente. Mas, por volta das 10h30 da terça-feira, 11 de setembro de 2001, estava no hotel com minha mulher e a jornalista Andressa Martins, que possuía máquina fotográfica e câmera para filmagem, quando explodiu a tragédia das Torres de Nova York, uma comoção mundial. Na quarta-feira, foi mudado o programa papal e proibido cantos e aplausos, pois todos tinham que orar pela paz mundial e chorei como muitos ao ouvir o Santo Padre Polonês. Frustrado por não ter podido receber a bênção especial, fui conhecer a cidade de São Francisco de Assis e voltei com mais entusiasmo para fazer o bem com bons modos na sociedade, filosofia franciscana.

João Firme é publicitário e jornalista.

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