Gugu errou feio, mas censura prévia, não

Por Milton Coelho da Graça É inacreditável que, até agora, só Luiz Garcia, no Globo de terça-feira, 23/09 (“O crime de Gugu, o abuso …

Por Milton Coelho da Graça
É inacreditável que, até agora, só Luiz Garcia, no Globo de terça-feira, 23/09 ("O crime de Gugu, o abuso dos juízes"), tenha se levantado contra a postura totalmente inconstitucional do juiz que decretou censura prévia ao programa do Gugu.
Gugu, que se meteu indevidamente a produzir programa jornalístico e realmente cometeu uma imoralidade sem limite e um crime contra o consumidor, merece ser punido de alguma forma e só ainda não foi porque, em nosso país, não temos instrumentos democráticos adequados à vigilância social sobre os meios de comunicação. O famoso Conselho - criado exatamente para evitar uma agência como a americana FCC - continuará inócuo, para delícia dos deputados em busca de concessões de rádios e tevês; dos gugus, sílvios e outros, que só pensam em índices de audiência (=$$$$) sem qualquer respeito pela função da TV na formação ética e cultural do país; dos jornais e revistas que vendem reportagens; dos comunicadores de rádio que usam seu prestígio e audiência junto ao público para tomar algum de candidatos a cargos públicos etc.
Mas nem Gugu nem qualquer outro profissional dos meios de comunicação pode ser CENSURADO PREVIAMENTE sempre que um juiz ACHAR que ele vai fazer algo errado.
Como diz Luiz Garcia e deveriam estar dizendo todos os jornais, rádios, televisões, sindicatos e federações de jornalistas, ABI e parlamentares:
"A punição dos responsáveis pelo que realmente aconteceu nada tem a ver com a proibição da apresentação de um programa que os juízes não conheciam. A censura puniu uma suposição de crime, sequer levando em conta que, àquela altura, o SBT era gato suficientemente escaldado."
"A censura prévia, em quaisquer condições, é um corpo estranho e detestável na democracia brasileira. Abre um precedente que nem as emissoras nem o público merecem."
É importante considerar que essa decisão judicial errada reflete a tendência correta e cada vez mais forte da reação social ao destempero da televisão, do rádio e até de alguns jornais, na busca de vantagens e receitas fáceis. A crise é grande, todos sabemos. Mas é nessas horas que aquela famosa linha branca - a dos valores humanos básicos, do interesse nacional, do respeito ao público - se torna ainda mais indispensável, sob pena de ingressarmos todos, inclusive os donos e profissionais bem-sucedidos dos meios de comunicação, no terreno do vale-tudo e, nesse terreno, meus amigos, só perde quem tem, quem nada tem nada tem a perder.
* Milton Coelho da Graça é jornalista. O artigo foi publicado originalmente no site comunique-se.com.br

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