Histórias comoventes

Por Glauco Fonseca* Nós, que somos brasileiros, facilmente somos levados pela emoção. Nossa tendência é sempre emocional porque somos um povo assim. As normas …

Por Glauco Fonseca*
Nós, que somos brasileiros, facilmente somos levados pela emoção. Nossa tendência é sempre emocional porque somos um povo assim. As normas de conduta, as leis, os códigos não nos regem como deveriam e, assim, somos governados, orientados, coagidos - não pela força da ordem, mas da emoção.
Vamos aos exemplos recentes?
Há alguns dias, o paranaense Rodrigo Gularte foi preso em Jacarta, na Indonésia, por porte de seis quilos de cocaína, escondidos em seis pranchas de surfe. Como todos nós sabíamos - e ele também - lá o tráfico é crime hediondo e a pena é capital, ou seja, morte por fuzilamento. Um outro brasileiro já foi condenado, o carioca Marco Moreira, por crime de tráfico ao tentar entrar no país com 13,4 quilos de coca escondidos em uma asa-delta.
A família está pedindo ajuda ao Itamaraty para que Rodrigo volte ao Brasil onde, como somos muito mais emocionais do que legais, esperamos que Rodrigo ou pegue uma pena branda ou que receba tratamento para livrar-se tanto do vício quanto do ofício.
O que achamos ou deixamos de achar quanto à lei na Indonésia faz alguma diferença? As autoridades indonésias vão liberar os rapazes porque são brasileiros ou vão executar a lei? Meu sincero desejo é que extraditem os cidadãos brasileiros. A enrascada é grande quando a vontade da lei se sobrepõe a valores culturais.
Já no Brasil acontece algo contrário, uma demonstração de que a lei é fraca, quase impotente: a sonegação fiscal.
De acordo com o art. 1 º, da Lei 8.137, de 27.12.91: "Art. 1º. Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I -omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias e IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato".
Os presidentes do Banco Central e do Banco do Brasil, nobres brasileiros, verdadeiros patriotas, foram descobertos pela prática de sonegação e de declaração falsa às autoridades fazendárias. Se fosse na Indonésia, iam para o corredor da morte, se fosse nos Estados Unidos, diretamente para a cadeia.
Mas é no Brasil.
Aqui, se você é poder ou amigo dele, fique à vontade. Pode sonegar, pode traficar, pode ter conta na Suíça, nas Ilhas Virgens, pode roubar à vontade, pode ser pego em flagrante e continuar solto.
Venham todos!
Mas, depois, não me venham me dizer que estamos com auto-estima em baixa. É que fica difícil a gente imaginar um país assim, tão desprotegido, tão vilipendiado como o Brasil amar a si próprio como uma nação de justos e de bravos.
Mas a nossa auto-estima melhoraria muito se o Waldomiro, o Meirelles, o Casseb e outros nobres brasileiros fossem passar uns dias na cadeia.
* Glauco Fonseca é publicitário.
[email protected]

Comentários