Homenagem a Cacilda Margarida Kliemann Tatsch

Por Emanuel Mattos Foi com profunda tristeza que acompanhei o velório e o enterro de uma das mulheres cuja história de vida serviria para …

Por Emanuel Mattos

Foi com profunda tristeza que acompanhei o velório e o enterro de uma das mulheres cuja história de vida serviria para um livro exemplar - e, confesso, por pouco não o escrevi: Cacilda Margarida Kliemann Tatsch, mãe do Secretário Municipal da Fazenda, Cristiano Roberto Tastch. Conheço Cristiano desde 1986, quando ele atuou no setor de marketing da campanha que elegeu Pedro Simon ao governo do Estado. Nossa amizade se fortaleceu ao longo de diversos episódios, alguns bem curiosos, entre eles a morte do deputado José Antonio Daudt, que o amigo David Coimbra rememorou com grande poder de síntese em seu blog. O que nem todos sabem é que Cristiano foi colocado na lista de suspeitos. Por duas razões bem banais: era amigo da jornalista Beth Corbetta - que jantou com Daudt na noite de seu assassinato - e possuía uma espingarda, pois tinha como hobby a caça. Só que era, também, um grande amigo de Daudt. Mas Pedro Simon, o governador na época, chegou a chamá-lo ao Palácio Piratini, a fim de ouvir o álibi perfeito de Cristiano na hora em que o crime havia ocorrido. Que tempos!


No ano passado, Cristiano planejou escrever um livro a respeito de sua mãe, a quem pretendia homenagear ainda em vida. Por detalhe não o fizemos, embora sua bela história ainda possa, obviamente, ser recontada, seja através dos filhos ou dos inúmeros amigos que foram prestar-lhe a última homenagem.


Cacilda foi uma mulher à frente de seu tempo. Nascida em 11 de julho de 1915, no ano de 1938 enfrentou o preconceito da rígida sociedade de Santa Cruz do Sul ao casar com a paixão de sua vida: Adalberto Etmar Tatsch. O detalhe é que a família de Cacilda era católica e a de Adalberto, luterana. Na época, era inadmissível que tal fato ocorresse. Cacilda demostrou que seu amor era mais forte do que as convenções e preconceitos. Uniram-se apenas no registro civil e, mais tarde, tornou-se luterana. Viveram juntos até 1996, quando Adalberto Etmar faleceu. Antes, porém, quando completaram 50 anos de casados, receberam, afinal, as bênçãos de um pastor luterano e de um padre católico.


Em Porto Alegre, onde passaram a viver, Cacilda Margarida conquistou o respeito através de sua cultura - falava perfeitamente inglês e alemão -, que cativou a sociedade local. Era professora de inglês das mais requisitadas da cidade. Foi, também, uma das primeiras mulheres a dirigir automóvel. Cristiano lembra de um episódio, nos anos 50, em que ela dirigia seu Citroën quando um sujeito preconceituoso gritou num caminhão: "Lugar de mulher é na cozinha!". Ela seguiu em frente, com elegância, sem dar bola à grosseria. Classe é classe.


Um dos fatos que demonstra seu enorme coração ocorreu quando o deputado  Euclides Kliemann foi assassinado por um cabo eleitoral do também deputado Siegfried Heuser. Cacilda prontamente acolheu as duas filhas pequenas de Kliemann em sua casa e as criou até concluírem seus estudos e casarem.


Infelizmente, fiquei sem saber mais detalhes a respeito dessa nobre senhora, que foi velada pelos filhos Nora Helena, Adalberto e Cristiano, ao lado de dezenas de amigos que cultivou em vida. Senti muito por não ter participado do projeto que, certamente, teria sido um belíssimo presente final para dona Cacilda Margarida. Mas testemunhei a solidariedade de seus três filhos, dos netos Tatiana e João Pedro e de todos, enfim, cuja admiração conquistou e que lhe prestaram a devida homenagem, no Cemitério Luterano de Porto Alegre.


Vida que segue. Hoje o jornalista e publicitário José Luiz Fuscaldo (à direita) completa 50 anos. Essa figuraça comanda, ao lado do José Antonio Vieira da Cunha, duas empresas que a cada dia conquistam mais espaço nos meios de comunicação de Porto Alegre: o site Coletiva.net - que completará, em abril, dez anos de informações, com muitas histórias  - e que já estão sendo resgatadas para essa data - e a Pública Propaganda, a primeira em marketing institucional, como assegura o seu principal mentor.


Para aquele garoto que jogava bolinha de gude quando guri e adorava ver figurinha de mulher pelada em seus tempos de adolescente lá na Vila do IAPI, onde foi um dos ilustres moradores, junto com seu amigo David Coimbra, completar 50 anos, bem casado e com dois lindos filhos, tendo construído uma história de sucessos, a vida já valeu a pena - e muito. Que venham outros 50!


E, assim como estive ao lado de Cristiano Tatsch no momento da solidariedade tão necessária, nesta quarta-feira, hoje pretendo abraçar o Fuscaldo, companheiro leal nas horas difíceis, que é quando se vê os amigos de fato.

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