ISV (2)

Por Mario de Almeida* Como já escrevi, resolvi fazer um check up e fui marcando consultas e realizando todos os exames necessários, e já …

Por Mario de Almeida*
Como já escrevi, resolvi fazer um check up e fui marcando consultas e realizando todos os exames necessários, e já que o urologista não podia devolver minha ereção de quando não idoso, comparei, inclusive, Viagra com Cialis.
Quando cheguei ao cardiologista, ele ouviu meu histórico e me mandou, de cara, para os exames de sangue e para o teste ergométrico na esteira. Avaliando resultados, disse-me que eu deveria fazer um cateterismo. Como sou, há anos, associado ao Hospital Silvestre, o qual nem conhecia, resolvi fazer lá o cateterismo, como teste de qualidade. O hospital é ótimo, ao contrário das minhas coronárias, então comprometidas com quatro obstruções. Diagnóstico unânime e inevitável: cirurgia. Meu cardiologista mandou-me para uma ultrassonografia do coração e a médica, ao terminar, disse:
- Se o senhor não tivesse me dado seu histórico, não seria por aqui que eu perceberia alguma coisa. Seu coração - o músculo - está 100%.
- Então ele é de aço, pois agüentou 20 anos de ditadura!
Voltei ao cardiologista e não sei se sério, ou com ironia inglesa, ele me aconselhou:
- Mario, faça logo essa cirurgia enquanto você goza de excelente saúde.
Dia 22 de outubro de 2002 internei-me no Silvestre para ser operado na manhã seguinte. Passei o dia sob inquérito clínico e fazendo diversos exames. À noite, o cirurgião foi ao apartamento para dar as instruções pré-operatórias e minha mulher perguntou-lhe quanto tempo levaria a cirurgia:
- Para ele nada, pois estará sob anestesia, para mim e equipe, o tempo que for necessário, para a senhora, uma eternidade.
Às 13h do dia seguinte eu "ressuscitava" na CTI, após quase seis horas de cirurgia e com duas safenas e uma mamária implantadas. Uma das obstruções, verificada in loco, era inócua para o sistema e ficou lá. Fui condenado a dormir de costas 60 dias e esse foi o castigo maior de tanta imprevidência. No mesmo dia do primeiro sono normal, voltei à píscina, sauna, hidromassagem e tudo a que costumava fazer, inclusive jogar bocha.
Ganhei novos medicamentos e, entre um trabalho e outro, fui deixando a vida me levar.
Três meses após a cirurgia, apareceu uma seqüela, um linfedema, na perna direita. A angiologista foi taxativa:
- É um linfedema e não tem remédio e nem cura.

- Ótimo, então está resolvido!
Não era exatamente assim, fui para a fisioterapia e comecei a usar meia compressiva. Como ando de bermudas no mega condomínio onde moro e passei a usar a meia só na perna direita, pedi, no jornalzinho, que não me chamassem de saci.
Em fevereiro deste ano percebi um edema na perna direita e "corri" para a angiologista. Pediu-me um color doppler das pernas, da vértebra e das carótidas. Resultados suspeitos levaram-me à arterografia e o menor problema era a perna, pois também fui ao ortopedista e descobri que ganhara, junto, uma sinovite. Fui para a fisioterapia tratar da perna enquanto cardiologistas e angiologistas chegavam à conclusão unânime: cirurgia na carótida esquerda, comprometida em 70%. Meu cardiologista, ao fazer à avaliação de risco cirúrgico, voltou ao seu humor inglês:
- Mario, faça o mais rápido possível, pois sua saúde está ótima.
Dia 15 de março internei-me no Hospital Silvestre para a cirurgia na manhã seguinte, uma terça-feira, com previsão de alta - se tudo corresse bem - no sábado ou no domingo.
Na quinta-feira, meu irmão, lá pelas 9 da manhã, telefonou de São Paulo para saber como eu estava. Aurea, minha mulher, atendeu o telefone e disse-lhe que uma enfermeira (linda!) estava me dando banho para eu ir para casa. Surpreso pela velocidade de minha recuperação ele mandou o recado:
- Não deixe ele jogar bocha até domingo.

(continua)
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e co-autor, com Rafael Guimaraens, de "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos).
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