Jakzam Kaiser, editor do ano em Florianópolis

Por Emanuel Gomes de Mattos Seu pai apenas desejava que ele fosse um vencedor. O gaúcho de Porto Alegre, Jakzam Kaiser recebeu, durante a …

Por Emanuel Gomes de Mattos

Seu pai apenas desejava que ele fosse um vencedor.


O gaúcho de Porto Alegre, Jakzam Kaiser recebeu, durante a abertura da VII Feira do Livro de Rua de Florianópolis, dia 30 de abril, a Medalha Mérito Editor Odilon Lunardelli. O prêmio, concedido pela Câmara Catarinense do Livro, reconhece a contribuição do diretor da Editora Letras Brasileiras ao crescimento cultural de Santa Catarina.


O prêmio, entregue pela Presidente da Fundação Catarinense de Cultura, Anita Pires, distingue o Editor do Ano. A Feira do Livro vai até o dia 10 de maio no Largo da Alfândega, tradicional ponto da Ilha de Santa Catarina.


E qual o significado desse prêmio?


"Significa o reconhecimento pelo trabalho realizado no último período - responde Jakzam - com ênfase para o período março/2007 a março/2008, em que a Letras Brasileiras deu um salto. Constituiu um catálogo diversificado, com livros de qualidade editorial reconhecida e apuro gráfico diferenciado. Também lançou produtos que obtiveram sucesso imediato, com destaque  para o Atlas de Santa Catarina. E, no segmento de maior especialização - o de Turismo -, a Editora produziu uma coleção de 27 revistas, uma para cada estado brasileiro (os 26 estados, mais o Distrito Federal), que inexistia até então."


Jakzam Kaiser,cujo Perfil foi publicado no Coletiva.net em 8/9/2006,  recebeu o título ao lado de sua mulher Maria Thereza e dos filhos Gabriel e Felipe. Ele recorda que há pouco mais de um ano estava produzindo quatro livros infantis cujos textos havia selecionado no verão anterior. Os títulos: "Menina de três", "O lápis e a menina", "Braboletas e ciuminsetos" e "Se eu fosse". Todos eram textos de autores estreantes e, à exceção de "Se eu fosse", os ilustradores também faziam seu primeiro trabalho na área.


Um dia, conversava com Tetê (apelido da jornalista Maria Thereza, capixaba criada em Curitiba), bastante animado com os resultados, e ela comentou:


- Fico admirada com esta tua capacidade de te reinventar. Quando te conheci você fazia esporte, depois fez economia, campanha política, mestrado em antropologia, depois foi fazer revista de turismo, e agora está aí envolvido com livros para crianças, vibrando com desenhos, realmente entusiasmado com algo completamente diferente de tudo que você já fez.


Não esqueci o episódio porque tem tudo a ver com a minha personalidade - ter interesses múltiplos, gostar de aprender coisas novas e só me envolver se for pra fazer bem feito - e com o momento atual - resume Jakzam.


Pode ser que, inconscientemente, ele esteja repetindo o pai, já falecido, primeira grande influência na vida. Em seu livro que virou cult, "Tempos Heróicos", Jakzam é alter ego de Beto. Nas belíssimas cartas publicadas - o ponto alto do livro, aliás - seu pai lhe ensina lições que certamente devem ter sido útil por toda a vida. Uma delas, fazendo referência à separação dos pais de Jakzam:


"Todos têm seus traumas de infância, mas os que amadurecem libertando-se deles deixam de agir sob seus reflexos, passam a usar a razão e o bom senso." (Pág. 97)


Encontrei Jakzam quando ele era um dos revisores de Zero Hora e disputou a vaga que havia no esporte, setor em que eu era o Editor. Há diversos registros a respeito em "Tempos Heróicos". A partir de então temos uma sólida amizade, tanto que, quando fui para Florianópolis montar a primeira equipe que lançou o Diário Catarinense, levei parte do esporte: Pedro Macedo, Luiz Zini Pires, Jakzam Kaiser e Breno Maestri.


Vida que segue. Do time mencionado, apenas Breno Maestri e Jakzam Kaiser permaneceram em Florianópolis. Deixaram o jornal, como quase toda a equipe pioneira, mas obtiveram sucesso profissional e constituíram belas famílias. Breno casou com a jornalista Chuchi Silva depois que ela abriu mão de um compromisso formal para viver essa paixão arrebatadora. E dia 24 de novembro de 2007 realizaram o casamento civil, testemunhado pelos três filhos, já crescidos: Enzo, Franco e Gianna.


Logo que saiu do Diário Catarinense, Jakzam conheceu um homem que, além de correto e digno, é sempre uma lição de sabedoria: o autor consagrado com mais de um milhão de exemplares vendidos e aventureiro vocacional, Werner Zotz. No início da convivência fizeram de tudo um pouco: programa eleitoral, depois foi seu redator publicitário na agência que ele dirigia, e assessor de imprensa quando Werner Zotz, autor de "Apenas um Curumim", foi secretário de comunicação do estado de Santa Catarina. Um chefe que virou professor, amigo e hoje é um parceiro em projetos e de vida.


"Estamos juntos há mais de 20 anos. Ele foi meu chefe. Um chefe exigente ao extremo, tanto no resultado quanto no comprometimento. Como correspondi às suas expectativas, nas sucessivas equipes que montou, em diferentes situações, era sempre chamado. Ao final, chegou um momento em que eu era o primeiro (e às vezes o único) cara a ser chamado para trabalhar com ele, e nos tornamos bastante próximos. Criou-se, então, uma relação de mestre-aprendiz, que me beneficiou e continua beneficiando ainda hoje, pois tenho sido destinatário - digamos assim - do conhecimento dele. Hoje, esta relação evoluiu para uma forte amizade. E, além de parceiros de trabalho, temos sido também companheiros de viagens."


Essa cumplicidade entre Jakzam e Werner, com a presença de Tetê e Chuchi, fazem da Letras Brasileiras uma editora reconhecida, a ponto de ter concluído com sucesso um trabalho destinado ao turismo em todos os estados do país.


Confessa uma pendência: "Aventura no Coração do Brasil" (textos seus, fotos de Werner), quinto volume da Coleção Expedições, referente à viagem de jipe pelo Pantanal, as grandes chapadas (Guimarães-MT, Veadeiros-GO e Diamantina-BA), Jalapão-TO, cidades históricas de Goiás (Goiás Velho e Pirenópolis) e as capitais do centro-oeste brasileiro. Só não foi publicado porque Jakzam ainda não deu ponto final aos textos.


E a viagem para o sexto volume da "Coleção Expedições", também com textos seus e fotos do Werner (como "Aventura no Caminho dos Tropeiros"; os outros volumes são "Aventura nos Mares do Brasil", "Aventura no rio Amazonas" e "Aventura no Fim do Mundo", os três com textos e fotos somente de Werner Zotz) já está marcada, conforme Jakzam: em julho próximo, com Werner, sua mulher Betty, os filhos e Maria Thereza, uma navegação em todo o trecho brasileiro do rio Paraguai.


E quais são os planos futuros do Editor do Ano?


"Dar seqüência aos lançamentos de catálogo da editora nas áreas de literatura infanto-juvenil, educação e ficção adulta e aos muitos projetos na área de turismo, e, pessoalmente, continuar escrevendo livros de expedições. Ano que vem pretendo ir à África com os guris e a Tetê, para fazer outra viagem destas, com safáris, vôos de balão, cavalgadas, trechos de barco. Se vou conseguir realizar todos estes projetos? Não sei. Mas, nos últimos anos, tenho funcionado assim: jogo as sementes e colho o que é possível. Aprendi que se a gente plantar 1 hectare , colhe normalmente menos de 1 hectare ; se quisermos colher 1 hectare temos que plantar em dois, três, dez hectares."


Não é a primeira vez que Jakzam Kaiser é premiado pela Câmara Catarinense do Livro. No ano de 2000, ele recebeu da CCL o "Prêmio Boi-de-Mamão", na categoria "Publicação Jornalística", pelo edição do livro "Santa Catarina - Oportunidades e Negócios - Panorama da Sociedade Catarinense atual". O sucesso foi tanto que já está em sua sétima edição e tem versões para 14 idiomas.


Entre as cartas cheias de sabedoria que Jakzam recebeu de seu pai e dividiu com os leitores em "Tempos Heróicos", destaco esse trecho magnífico:


"Não somos fisicamente eternos, somos mortais. Enquanto estivermos vivos podemos ser felizes integrados na estrutura humana, social ou hierárquica nas horas de trabalho; fora delas, com boa remuneração podemos fazer o que gostamos, e este lazer é a finalidade do trabalho. O vencedor é o que usufrui com mais meios, mais estabilidade, mais lazer, mais respeito e credibilidade alheia e mais hierarquia. Meu desejo de pai pra filho é que você seja sempre um vencedor." (Pág. 81)


Descanse em paz, José Delvair Kaiser. Seu filho é um vencedor.

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