Jornalismo é fonte luminosa

Por Fábio Berti, para Coletiva.net

Eu realmente não gosto de escrever em primeira pessoa. Mas, na atualidade, prestar testemunho enfático tem sido uma boa estratégia para tentar garantir a atenção do público. Vide a proliferação cultos religiosos superlotados e extasiantes. Vou, portanto, relatar brevemente meu caso de amor com o jornalismo. Comecei muito cedo, aos 17 anos. Redator de notícias, repórter, apresentador em diferentes mídias, gestor - modestamente, seria hoje um multimídia. Sou um apaixonado! O jornalismo mudou a minha vida! Fez-me enxergar a luz!

Pois é disso que se trata: o jornalismo é a fonte luminosa de que precisamos na escuridão provocada por uma polarização burra, num tempo em que a maioria tem posição demarcada, estacionando em um hemisfério tão somente por odiar o outro. O perigo é que já não se reconhece um passado de similitudes tanto em nosso país, quanto na história da humanidade. Nesse cenário, proliferam os ismos mais apavorantes: obscurantismo, radicalismo, protecionismo, ultranacionalismo, entre outros, que seria um desserviço proferir. Há quem arrisque dizer que estamos 'a caminho das trevas', metaforizando a sombria Idade Média, em que nobre era nobre e pobre era pobre. Liberdade de expressão e possibilidade de ascensão social? Para quê e para quem?

No Brasil, 2018 é sinônimo de eleição geral. Está certo que há uma Copa do Mundo no caminho e que um eventual hexacampeonato com o nosso querido Tite e o controverso craque Neymar poderá seduzir os menos atentos. Talvez um bi gremista na Libertadores ou uma grande arrancada do Colorado na Série A do Brasileirão sejam bons atrativos aos desavisados. Cumpre esclarecer que adoro futebol e tenho dedicação aos estudos do jornalismo esportivo. Só não sou adepto ao panem et circenses.

Em outubro, escolher-se-ão - plagiando um pretenso e ilegítimo governante - parlamentares estaduais e federais, que criam as leis par embasar as decisões do Poder Judiciário (?). Ungir-se-ão chefes do Poder Executivo nos estados e na União. Ouso sugerir um especial cuidado na escolha dos vices. Sim, votamos em vices também. Aposto todas as minhas fichas que essa eleição também será guiada por fake news. Um tantinho em razão das tendências comportamentais nas redes sociais. E um tantão porque adoramos copiar os americanos, que elegeram o inqualificável Donald Trump como seu líder acreditando em terabytes de mentiras disponíveis no twitter, no instagram, no facebook, no whatsapp, entre outros.

A minha valorosa profissão tem a capacidade de alumiar os caminhos dos que têm dificuldade de enxergar. Ela relata, narra, esclarece. Ela ajuda a tirar da ignorância. É nisso que sempre acreditei, desde quando comecei a exercê-la, que procurei honrá-la e que ora tenho a responsabilidade de perpetuá-la junto a uma legião de jovens que compartilham dessa crença e dessa missão.

Certo, há aos quilos quem nesse exato instante me acuse de romântico, idealista, leviano, lunático até. Vejamos algumas pós-verdades do jornalismo: 'Grandes grupos de comunicação têm compromisso com os interesses dos poderosos, eles mentem!'. Sim, há indícios (ah, atualmente indício é prova para acusação). Mas ainda há muito espaço para o jornalismo livre; 'Nunca haverá imparcialidade!'. Talvez, se o/a jornalista for irredutível em suas posições e não colocar o compromisso social acima disso; 'As redes sociais dão conta de informar e vão sepultar o jornalismo!'. Mentira deslavada. A baixíssima qualidade do que circula nas redes é o grande trunfo para o fortalecimento do jornalismo. Só é preciso que a própria sociedade seja sua signatária.

Esse breve texto, em que arrisco não usar fontes bibliográficas ou estatísticas para validá-lo, diferentemente da maioria dos meus escritos, não está endereçado à sociedade em geral. Não foi feito para minha esposa, excelente professora de História ou para os seus pares do ensino básico. Também não pretendo que meus filhos leiam, mesmo que sejam estudantes aplicados e conscientes desse mundo esquisito. Não o escrevi pensando em meus colegas da academia nas diferentes áreas do conhecimento. Não pretendo que trabalhadores da indústria e do comércio, profissionais liberais ou empresários o leiam. Nem desejo que influencie os 'supracitados' simpatizantes dos 'ismos'.

Escrevi e o remeto para jornalistas e estudantes de Jornalismo. Muito mais do que a atenção aos impactos das tecnologias no mercado de trabalho, temos que saber para que serve o jornalismo. Serve para acabar com a cegueira coletiva. Serve para nos ajudar a escolher nosso próprio caminho.

Fabio Berti é jornalista, doutor em Educação em Ciências pela Ufrgs e coordenador do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista - IPA

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