Jornalismo e qualificação

Por Gerson Martins* Em artigos anteriores foi enfatizada a necessidade da formação universitária em jornalismo para o exercício profissional na área. Essa necessidade ficou …

Por Gerson Martins*
Em artigos anteriores foi enfatizada a necessidade da formação universitária em jornalismo para o exercício profissional na área. Essa necessidade ficou claramente definida em conseqüência e por causa da responsabilidade social da atividade jornalística. Pois bem! E o que dizer dos profissionais que possuem curso superior em jornalismo e, depois de alguns anos, percebem que seu trabalho está defasado e que a evolução técnica e social deixou muitas lacunas no seu cotidiano e no processo de produção da notícia? Há na ciência, de forma geral, uma perspectiva que denominamos de "práxis". O que é isso? Em todas as ações do ser humano, em todas as atividades laborais, procuramos aliar teoria e prática. Executar nossas tarefas de forma refletida e não simplesmente de forma mecânica, repetitiva. Mesmo um operário numa linha de produção que, em primeira análise estaria repetindo periodicamente seu trabalho, seu labor, faz uma reflexão dos seus atos, da sua repetição e de como pode fazer para melhorar os mecanismos, as máquinas, os instrumentos que permitem sua produção sua atividade.
No jornalismo não pode ser diferente. Por que deveria o jornalista concluir seu curso universitário e permanecer com as mesmas informações recebidas na faculdade? Na faculdade aprendeu a construir o "lide", como forma básica de narrar os fatos e nunca mais questionou sua utilidade, sua atualidade? Como profissão, como atividade que possui ampla e profunda responsabilidade social e tudo o que essa palavra carrega, o jornalista deve buscar, de forma incessante, sua qualificação, seu aprimoramento. A necessidade de uma qualificação, ou ainda uma atualização do conhecimento profissional, é imperativo. O profissional deve estar atento às oportunidades que costumam surgir. Exemplo disso é o curso de pós-graduação lato-sensu (especialização) que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte vai realizar a partir de outubro próximo. Depois de uma consulta à comunidade profissional do jornalismo, o Departamento de Comunicação vai oferecer um curso de especialização em jornalismo econômico. O curso será coordenado pelo professor Dr. Adriano Gomes e objetiva qualificar os jornalistas profissionais quanto aos procedimentos de produção do texto jornalístico que relata os fenômenos da economia. Em outras palavras, é transformar o chamado "economês" em linguagem de fácil entendimento para o público em geral. O curso tem uma característica emininentemente jornalística e todas as suas disciplinas tratam desse assunto.
A sociedade está em permanente evolução. O jornalismo trabalha com os fatos sociais no seu cotidiano. Compreender e traduzir esses fenômenos em linguagem compreensível à população é a tarefa principal do jornalista. Se o profissional formado no ensino superior não realizar, periodicamente, uma reciclagem, poderá ficar obsoleto. Como fica então diante dessa responsabilidade social, da compreensão dos fenômenos sociais o pseudojornalista, o chamado precário? Reside nesse aspecto uma irresponsabilidade do empresariado de comunicação quando contrata uma pessoa desqualificada que se denomina profissional de uma área do conhecimento e da atividade humana. Essa mesma perspectiva acontece com o chamado estágio em jornalismo. Por lei, o estágio continua proibido, desde que caracterizado como exploração de mão-de-obra barata. A Fenaj vem incentivando, promovendo e coordenando o desenvolvimento de projetos pilotos de estágio acadêmico, dentro do processo de implantação do Programa Nacional de Estímulo à Qualidade da Formação Profissional dos Jornalistas. Ao aprovarem a realização destes projetos de estágio, durante o seu Congresso Nacional de 2000, em Salvador, Bahia, os jornalistas fizeram questão que fossem acadêmicos e se desenvolvessem sob a orientação da Comissões de Gestão de Qualidade de Ensino, propostas pelo Programa, para que realmente contribuíssem e resultassem em melhoria na formação do jornalista.
* Gerson Martins é jornalista e professor da UFRN.
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