Le Pen e a culpa da imprensa

Por Gilles Lapouge A França nunca primou por reconhecer seus erros. Após o belo desempenho dos fascistas da Frente Nacional, com a vitória do …

Por Gilles Lapouge
A França nunca primou por reconhecer seus erros. Após o belo desempenho dos fascistas da Frente Nacional, com a vitória do partido de Le Pen contra os socialistas de Jospin, que vão disputar o segundo turno no próximo domingo contra a direita de Jacques Chirac, raros são aqueles que "batem no peito".
De quem é a culpa? A questão não é formulada. Ou então, cada um responde: "A culpa é dos outros!".
Os chefes socialistas, que deveriam morrer de tanta vergonha, além de não fazerem sua "autocrítica", agarram-se ainda com a admirável exceção de Lionel Jospin, a sua posição. Assim, será o mesmo exército retrógrado, sob a férula de velhos chefes caolhos, manquitolas ou paralisados dos braços e cérebro, que deverá enfrentar o próximo desafio, a disputa crucial, ou seja, as eleições legislativas do próximo mês de junho.
Os institutos de pesquisa enganaram-se redondamente. Será que vão reconhecê-lo? Vejamos! Um pouco de seriedade: e o dinheiro como fica? Eles já começam a assediar os jornais para vender-lhes novas pesquisas, sua nova "fancaria".
E os jornais? Estão mudos. Felizmente, existem os jornais estrangeiros que estão pouco ligando para a incompetência, o conformismo, o "servilismo" de seus colegas franceses em relação ao poder.

The Economist de Londres observa a "falta de independência" dos jornalistas. O jornal inglês está chocado com o fato de os jornalistas viajarem gratuitamente nos aviões dos políticos franceses. The Economist é muito severo com as "entrevistas coletivas" dos presidentes nas quais os jornalistas fazem uma pergunta rudimentar e não utilizam nunca o direito de fazer nova pergunta "se a resposta do presidente for medíocre, banal, inconsistente ou insípida" (como costuma ser).
Mesma opinião de Stefan Braendle (do jornal austríaco Der Standard). "Políticos e jornalistas estão na mesma bolha. Estão em família."
Prova desta docilidade: os jornalistas descobriram há três meses um número incrível de assassinatos repugnantes, desumanos e lhes dão um destaque extraordinário, repentem-nos tanto que poderíamos crer que Paris, Marselha ou Lyon eram "campos de tiro" em que se exercitam impunemente bandidos sardos, sobreviventes da Chicago de 1930, ustachis croatas do tempo de Hitler, revolucionários russos do século XIX, "panteras negras" vindas dos Estados Unidos, cangaceiros e jagunços, sem falar de jacarés, piranhas e tigres de Bengala?
Joelle Meskens do Le Soir de Bruxelas está chocada: julga (e tem razão) que a insegurança não é maior que nos outros países europeus. Mas, no período eleitoral, o menor incidente é pintado com as cores mais cruéis, de maneira a alimentar as campanhas desse ou daquele candidato, em particular Chirac e Le Pen. É o que confirma o veredicto do Corriere della Sera (Itália). A televisão francesa contribuiu para uma espetacularização da violência, propícia às reações emocionais".
Vemos que os chefes socialistas, os institutos de pesquisa, os jornalistas, em suma, todos os formadores de opinião detestam o "arrependimento". Eles deveriam pedir conselho ao papa João Paulo II. Este último desenvolveu um método eficaz: quando um problema é constrangedor para a Igreja, ele faz um "bom arrependimento": para a Inquisição de Torquemada, um arrependimento e mais um pouco! Os judeus, o povo decide, um arrependimento basta? O tratamento feroz dispensado na Galiléia, lá vai outro arrependimento! etc? etc?
Alguns acharam esse uso do arrependimento um pouco excessivo e vêem nele uma maneira de evitar qualquer responsabilidade. Existe verdade nisso. Mas quando vemos a covardia dos políticos franceses, dos jornalistas, dos institutos de pesquisa, que, no dia seguinte ao desastre, se põem a falar de sua moral, de sua sabedoria (e sobretudo de sua tolice), pensamos que não é nada mal termos, de vez em quando, um papa João Paulo II.
* Publicação da Agência Estado, 29/04/2002

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