Manual de como educar os filhos

Por Márcia Fernanda Peçanha Martins* Não existe nada mais difícil, incerto, inexplicável e recheado de emoções indescritíveis do que educar os filhos. Os pais …

Por Márcia Fernanda Peçanha Martins*
Não existe nada mais difícil, incerto, inexplicável e recheado de emoções indescritíveis do que educar os filhos. Os pais jamais sabem se estão realmente fazendo a coisa certa em termos de educação, embora sejam rápidos em criticar os erros dos filhos dos outros quando ainda não têm os seus próprios. Educar é um ato prazeroso. Ninguém nega os sentimentos lindos que invadem o nosso coração quando vemos algum avanço na educação dos filhos. Mas educar também pode ser um ato penoso e dolorido. Afinal, nem sempre se pode aplicar a psicologia moderna e "discutir a relação" entre pais e filhos. O certo é que educar é um ato fecundo de amor. Mas qual será a dose certa do amor?
Quem não nos garante que estamos educando nossos filhos para serem cidadãos responsáveis e dignos no futuro? Quem garante que estamos proporcionando aos filhos todas as opções passíveis de escolha de vida para cultivarem a decência e a honestidade? Nada é certo em se tratando de educação. E a cada dia se aprende uma coisa nova, mesmo que seja com os erros. O correto é que os filhos são uns amores e os pais têm um bom controle sobre eles até mais ou menos os dois anos, mesmo que eles ainda não venham com manual de instrução que ensine onde desligar quando chora à noite, ou quando tem cólica ou se não quer dormir.
O perigo chega quando é a hora de ensinar a não fazer desaforo para os mais velhos, ser gentil, dizer obrigado, aceitar os apertos nas bochechas que os conhecidos fazem, dizer por favor, respeitar os tios e tias, e escolher a creche ou a babá e, mais tarde, a escola. Afinal, o que queremos para os nossos filhos? Esse momento é crucial e se a escolha for errada pode ser fatal. Se já perdemos a bússola da educação, nem adianta tentar muito sem o apoio de um especialista no assunto. No entanto, se ainda se mantém um certo controle, nesse momento, temos uma grande responsabilidade.
Quero educar os meus filhos para passarem no vestibular, para serem robôs que repetem tudo o que ouvem, ou quero que eles sejam educados para a vida, com consciência crítica para fazer, posteriormente, as suas próprias escolhas? Quero criar cidadãos que ajudem a construir uma sociedade melhor, mais justa e igualitária, ou quero formar pessoas preocupadas unicamente com suas próprias vidas?
Evidente que nenhum pai ou mãe fará uma escolha errada sabendo que é a escolha errada. Mas nem sempre se acerta na educação e creio que o momento ideal de tentar ensinar os valores básicos da vida é a partir dos seis/sete anos, quando eles já podem articular hipóteses e imaginar como seria o cotidiano deles se agissem de determinada maneira. Sem querer dar conselhos - até porque estou em pleno processo de aprender a educar, por isso essas reflexões -, o que eles gostam de ouvir é o motivo das coisas, saber porque não podem fazer tal brincadeira, as conseqüências e tudo mais. Se existirem argumentos, parece mais fácil acertar na dose da educação e, por conseqüência, do amor.
Jamais esqueço uma lição que aprendi com minha filha quando ela tinha seis anos e pediu para fazer uma coisa (não lembro exatamente o quê, mas era algo que trazia perigo). E eu, categoricamente, disse que ela não poderia fazer aquilo. E fim. E ela, com uma arrogância vinda não sei de onde, me olhou e disse: "Por quê?" Ora, porque não, limitei-me a responder (no íntimo, pensando, que audácia dessa baixinha, ainda quer explicação). E queria. Gabriela não se contentou e me disse: "Mãe, porque não, não é uma resposta aceitável, tem que ter uma justificativa, um argumento". Naquele momento, tive a intuição de que estava educando no caminho certo e que ela saberia, no futuro, escolher os seus rumos e fazer parte de uma sociedade mais participativa.
* Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela PUCRS, trabalhou no Jornal do Comércio e Zero Hora e atualmente está em assessoria de comunicação social.
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