As meninas da
meteorologia
apareceram
ontem
bem
vestidas, aveludaram a
voz
e falaram
que
ventos
frios
iriam
soprar
da Sibéria e
que
uma
frente
fria
chegaria nas próximas
horas
à
província
chinesa da Mongólia. Em razão disso,
tempestades
de
areia
se formariam no
deserto
de Gobi e a
temperatura
cairia uns 10
graus
.
Elas
pareciam
muito
tristes
,
pois
a primavera acabava de
chegar
na China e,
com
a
tempestade
, os
passarinhos
com
gripe
aviária
não
iriam
pipilar
em
nossas
janelas
pela
manhã
.
Olha, pensando
bem
, dormi tranqüilo.
Eu
sei
que
no
inverno
as
dunas
de
areia
no
deserto
ficam
cobertas
de
gelo
e os
ventos
,
quando
sopram, lembram
caravanas
de
camelos
que
vão
andando
cada
vez
mais
devagar
,
até
se imobilizarem enregeladas. Tranqüilo,
porém
,
por
não
ser
camelo
nem
pretender
atravessar
o
deserto
nos
próximos
três
dias
. E,
finalmente
, tranqüilo
por
estar
a
mais
de 1.500
quilômetros
de
distância
dessa
região
crítica
.
Eu
me
enganei
em
alguns
pontos
dessas
minhas
suposições
. Ao
sair
para o
trabalho
na
manhã
seguinte
, descobri
que
os
carros
do
estacionamento
estavam
todos
cobertos
de
pó
, o
chão
tinha
uma levíssima
camada
de
minúsculos
grãos
de
areia
,
um
deputado
chinês vociferava
contra
as meninas
que
haviam anunciado a
tempestade
e
eu
,
felizmente
,
ainda
não
era
da
família
dos camelídeos
nem
tinha
planos
de
viagem
pelo
deserto
.
Tempestades
de
areia
Eu
já
tinha
conhecido
, na
primavera
passada
,
esses
dias
que
nascem
doentes
, brilhando
com
icterícia
atrás
de uma
névoa
persistente
de
pó
.
Esse
pó
vem do
deserto
de Gobi,
chega
a Pequim,
mas
também
transtorna
a
vida
dos
habitantes
das duas Coréias e
suja
a
roupa
branca
que
as
mulheres
japonesas estendem no
varal
do Japão.
Quando
respiram, as
pessoas
sentem uma
secura
na
garganta
e
um
gosto
de
areia
fina
. Se
alguém
entra numa
livraria
ou
compra
o
jornal
,
logo
vai
perceber
os
pequenos
grãos
de
areia
sobre
as
capas
e primeiras
páginas
dos
livros
e
jornais
. E
em
casa
,
não
adiante
deixar
portas
e
janelas
fechadas
que
o
vento
se encarrega, desafiando
toda
a
ciência
da vedação, espalhando
areia
sobre
mesas
,
cadeiras
e lençóis.
A
cada
ano
essas
tempestades
diminuem,
por
causa
da
plantação
de
árvores
nas
proximidades
do
deserto
.
Grande
parte
das
mudas
morre,
mas
as
que
vicejam facilitam a
vida
dos chineses.
Só
que
nesse
dia
, ao
lado
dessa
tempestade
de
areia
,
um
diretor
de
meteorologia
, Liang Rongxin, havia
criado
uma
tempestade
verbal
, ao
criticar
os
rapazes
e as moças
que
fazem a
previsão
meteorológica na China.
Ele
está
em
Pequim participando do
Conferência
Política
Consultiva
do
Povo
Chinês (CPCPC),
que
termina nessa
terça
.
Ele
disse,
sem
veludo
na
voz
,
que
previsão
meteorológica é
ciência
e
não
show
de
entretenimento
e
que
o
pessoal
da meterologia
não
deveria
ficar
copiando talk-shows e
outros
programas
de TV.
"As
estações
de
televisão
", disse
ele
ao
jornal
China Daily, "estão forçando as
pessoas
a assistirem a
comerciais
,
quando
seu
único
objetivo
é
saber
se vai
chover
amanhã
". A
maior
parte
dos entrevistados
pelo
jornal
disse
que
Liang Rongxin
não
deveria
criticar
os
programas
de
televisão
apenas
porque
não
batem
com
seu
gosto
pessoal
e
que
se
ele
não
gosta
das meninas da
previsão
do
tempo
,
outros
adoram,
como
na
música
"
você
não
gosta
de
mim
,
mas
a
sua
filha
gosta
".
Boca
Seca
Pensando nessas meninas e
meninos
da
meteorologia
,
eu
saí
para
o
trabalho
em
ritmo
de
passeio
e parei na
esquina
da Jianguomen Malu
com
a Jianhua Nan Lu,
para
ver
mais
um
prédio
de 27
andares
que
tinha
sido projetado na
noite
anterior
e
construído
nas últimas 12
horas
.
Eu
não
poderia
participar
da
inauguração
,
mas
haviam aplainado
um
terreno
mais
adiante
e, na
volta
,
poderia
haver
no
lugar
outro
grande
edifício
pronto
.
Aliás
,
esses
edifícios
não
surgem
como
cogumelos
depois
da
chuva
porque
em
Pequim
não
chove e se chovesse os
cogumelos
seriam
muito
lentos
para
o
ritmo
da
cidade
.
Algumas
pessoas
já
estavam de
máscaras
. Acho-as
agora
simpáticas e tenho
vontade
de
comprar
uma.
Só
tenho
medo
de
que
me
fotografem, enviem
minha
foto
para
minha
mãe
e
ela
se assuste, achando
que
me
tornei o
Cavaleiro
Negro
dos
gibis
da
minha
infância
. Fui andando
devagar
, pensando
como
posso
estar
nessa
cidade
tão
estranha
,
onde
falam o
que
pouco
entendo, e vou
para
o
trabalho
ouvindo a
saliva
crocante
que
eu
mastigo de
vez
em
quando
.