Menos é mais?

Por Almir Freitas, para Coletiva.net

As mudanças conceituais no mundo da Comunicação não param de nos surpreender. O que antes era certo, agora é obsoleto, é desaconselhável, é inapropriado. Em quase duas décadas trabalhando no mercado de Comunicação Corporativa posso admitir que já vivi experiências contrárias em muitos dos aspectos que envolvem a atividade.

Outro dia, navegando nas redes sociais - coisa que assessor moderno precisa fazer rotineiramente como ler jornais e escutar rádio - li uma postagem de um profissional de redação levantando uma questão que julgo relevante: menos é mais. Em seu desabafo nas redes sociais ele ponderava que assessores precisam entender que vale a pela esperar a publicação em um grande veículo, garantindo assim maior 'visibilidade', que distribuir para muitos e perder essa condição da exclusividade.

Pois então, menos é mais? Achei que isso merecia uma reflexão. Não tenho essa convicção, uma posição nem sim, nem não, tão anos 2018!

Lembro de um trabalho há alguns anos que me custou uma amizade e que ilustra esse debate. Uma corporação estava trocando de mãos e os novos donos - eles eram especialistas em comunicação!!! - entenderam que a estratégia de divulgação envolveria chamar dois veículos de imprensa apenas para anunciar a operação. Eu discordei, mas acatei e pedi a ampliação para mais um grande veículo, com abrangência nacional. O que eu queria com isso: que, como especialista em comunicação, todos os profissionais de redação da época deveriam ter conhecimento da pauta, e não apenas alguns. Entendia que a relevância da pauta pedia isso.

Descontente, uma profissional de redação, após a 'micro-coletiva' fez contato, me xingou das mais impróprias avaliações e acabou por romper relações profissionais. E pessoais. Não entendeu ela, mesmo eu insistindo, que o convite feito para um veículo de circulação nacional faria com que a informação chegasse em todas as redações. "Tu só fazes o que o cliente quer?" esbravejava ela.

Era um outro momento da comunicação, onde não existiam redes sociais expressivas, onde a voracidade de alguns por notas exclusivas não era tão enraizada, não existiam influenciadores digitais... Mas mesmo assim continuo com a dúvida: menos é mais?

E se no dia 'acordado' com um repórter, um colunista, um profissional de redação, acontecer uma operação da Polícia Federal daquelas que faz 'parar as máquinas' - sim, essa era uma expressão de antanho!!! - manifestantes ocuparem uma via de grande fluxo, uma chuvarada inundar as ruas de grandes cidades, o Copom reduzir a taxa Selic... Enfim, se naquele dia um fato fora da curva aparecer e mudar a pauta? Por certo que o 'acordo' vai ter que esperar, e isso é justificável.

Mas será que outros canais não teriam um aproveitamento do material? E, se publicado, não desapareceria no contexto das notícias mais apropriadas para o momento?

O cenário da comunicação organizacional do momento me parece ser mais propício para trabalhar com públicos específicos, com nichos, onde estar presente na grande mídia pode não ser a melhor ou a única solução. As empresas passaram a entender que espalhar uma informação por jornais, rádios, programas de televisão e portais de notícias, pode não ser a melhor alternativa. Mas nem sempre foi assim.

Houve o tempo onde o muito representou mais que muito. O trabalho de uma então assessoria de imprensa era dimensionado apenas pelo clipping quantitativo. Acumular publicações em diferentes veículos de comunicação era a meta, representava sucesso do trabalho. E esse tempo passou? Não tenho convicção que sim.

A proliferação de plataformas onde uma pessoa pode obter informação força com que os profissionais de comunicação pensem de forma estratégica, avaliem cenários futuros e considerem obstáculos momentâneos. Nem sempre o menos representará mais ou o mais significará a satisfação plena e sucesso no trabalho.

Entretanto, sempre é bom lembrar o mestre Dominique Wolton, sociólogo francês especialista em Ciência da Comunicação em seu livro Informar não é Comunicar (Ed. Sulina). Na obra, Wonton põe em evidência o valor da informação na nossa sociedade, critica a velocidade de proliferação desses dados que, muitas vezes, impede o seu aprofundamento, e destaca o papel do jornalista. Para ele, é esse profissional quem dá sentido à informação, sua legitimação. Wolton lembra que quanto mais notícias circulando, mas precisamos de conhecimento para explicá-las e contextualizá-las.

Almir Freitas é professor da Famecos, da PUC, e diretor-geral da Ufizzi Comunicação e Relacionamentos

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