Morrer pelo Google

Por Sérgio Capparelli Bicarbonato de sódio é bom para azia? Não sei, por que não abre o Google, escreve bicarbonato e azia e vê …

Por Sérgio Capparelli


Bicarbonato de sódio é bom para azia? Não sei, por que não abre o Google, escreve bicarbonato e azia e vê o resultado? A Geórgia invadiu a Ossétia do Sul e a Rússia reagiu. Mas onde fica essa Ossétia? Ah, e a Abkházia? Onde fica essa Abkházia? Mas antes de tudo, como se escreve Abkházia? Com "bk" ou "zh"? E chá de camomila acalma? Mas como se escreve? Calmomila ou camomila? A flor maria-sem-vergonha é tóxica? E é verdade que Pitágoras, além de explicar o teorema que levou seu nome, era vegetariano e místico? Onde pesquisar para saber?


É isso! Os motores de busca da internet servem para tudo, mas principalmente para matar a curiosidade. Os jornais noticiaram recentemente que em um ano o Google é acionado bilhões de vezes. Não para pesquisas profundas, claro, que necessitam de maior qualidade e confiabilidade. Mas alguém, com visão de conjunto, fica satisfeito quando quer matar a curiosidade do dia-a-dia, acionando um motor de busca.


Uma pergunta que fica no ar: quando não havia o Google, como a gente matava a curiosidade? Perguntando a quem pudesse responder. Geralmente pessoas mais velhas. Com mais estudos. Outra solução era ir às bibliotecas e verificar um verbete específico. Primeiro, conhecer a lógica por trás do saber enciclopédico. Depois, procurando entre os verbetes o que interessava. Poucos tinham essa paciência para ir atrás de uma Enciclopédia Britânica, Barsa ou Miradouro. Eram caras. Estavam fora do alcance mesmo da classe média. Veio a internet e ficou mais fácil matar a curiosidade.


Mais fácil para quem, cara pálida? Certo, certo. A internet a não é para todos. Custa caro. Quem pesquisa na internet? Ora, quem tem acesso a ela. Sei aonde você quer chegar. Mesmo assim acho que ela vai se democratizando. Os computadores, produzidos em escala, ficam mais baratos. Muitas prefeituras brasileiras criam centros digitais nas periferias, nas favelas, em centros comunitários. É muito pouco ainda, mas é um passo. E se o professor ou a professora têm acesso à internet, o estudante pode ser beneficiado. Sou muito otimista? Pode ser. Mas lembrem-se de que se falava a mesma coisa da televisão. E hoje tem mais televisores nas casas do que geladeira.


A curiosidade matou o gato? Estamos falando de outro tipo de curiosidade. Falamos do cotidiano, que nos dá maior confiança, por expandir nosso conhecimento. Seja ele qual for. Porque a curiosidade é uma das molas do saber. Do saber que se aprende na escola e do senso comum. Um clique que pode abrir outras portas. Mas vem cá, quem foi Jim Morrison? A guerra do Paraguai acabou quando? O que é petróleo na camada pré-sal. Alguém aí pode me lembrar o que é H2O? E mulher melancia? No jogo de rúgbi, o atacante pode invadir a área? Ou melhor, tem área? Como é a letra de Carinhoso? Mas, afinal, o que é Google?


* Sérgio Capparelli é jornalista e escritor, colaborador de Coletiva.net.

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