Nos Bastidores da Criação

Por Luiz Renato Roble Assim como milhões de pessoas de várias gerações em todo o mundo, sempre fui fascinado pelo musical “The Sound of …

Por Luiz Renato Roble
Assim como milhões de pessoas de várias gerações em todo o mundo, sempre fui fascinado pelo musical "The Sound of Music" estrelado por Julie Andrews em 1965. De tanto ouvir, durante anos, os comentários entusiasmados de meus irmãos sobre

o filme, quando tive idade suficiente para assisti-lo, tive a nítida impressão de já tê-lo assistido, tamanho era o meu grau de ansiedade e intimidade com o filme.
Vendo agora depois de tantos anos o making off, pude conhecer todo o trabalho, aparentemente invisível, para que este filme pudesse ser produzido. Confesso que mesmo sendo eu, um grande admirador do filme, nunca havia pensado nele como uma grande produção de Hollywood, o que significa, dificuldades iniciais na compra de direitos autorais, estudos de pré-produção, negociações intermináveis, escolha de elenco, de locações, treinamentos, ensaios, criação de roteiro, das músicas, dos figurinos, dificuldades com viagens, dias de chuva, frio e todo um universo de acontecimentos reais, problemas, soluções, encontros e desencontros que normalmente acontecem e que não acostumamos imaginar existir quando apenas acompanhamos um trabalho finalizado.
Comecei a pensar no trabalho que temos no escritório de design e acabei fazendo uma analogia com a frustração que às vezes sinto, e que acredito, todos os que trabalham com criação também devem sentir, da grande dificuldade que as pessoas têm em visualizar todo o processo criativo que a equipe responsável por um determinado projeto trilha, cada vez que desenvolve um trabalho de design, quando o vêem pronto.
A experiência que cada profissional adquire com o passar do tempo, a vivência resultante de leituras, viagens e de muita curiosidade sobre tudo, são ações pré-requisitas para o sucesso na profissão. Além disso, são realizados estudos e

pesquisas de mercado, de público e da concorrência, representando horas de trabalho para as resoluções iniciais, geração das primeiras alternativas, escolhas das alternativas, desenvolvimento de layouts, pesquisas de materiais, de cores, de custo, de produção e muitas outras ações que, às vezes, não ficam claramente explícitas ao cliente em reuniões para a apresentação de um orçamento

estimado ou de um projeto solicitado. Felizmente, com o tempo e através dos resultados obtidos, o cliente passa a descobrir a importância de um trabalho bem-feito em design, bem como todas as etapas necessárias desde sua concepção inicial até o seu desenvolvimento e a sua implantação.
Guardadas as respectivas proporções, qualquer trabalho de design, assim como as grandes produções cinematográficas e artísticas, necessita de ações que pessoas leigas, incluindo a maioria dos clientes, não conseguem visualizar e muito menos imaginar que existem. Poucos sabem que o caminho criativo é longo e cheio de conquistas. Artistas como Picasso, por exemplo, podem desenhar deformações cubistas, pois já provaram a todos, que dominam o figurativo e o acadêmico, e assim conquistam respeito pelo seu trabalho criativo. Da mesma forma, um designer, ao apresentar uma solução ao cliente, que à primeira vista, pode parecer simples e lógica, merece respeito, pois na verdade, ele já experimentou antecipadamente, todas as possíveis soluções do trabalho. Algumas complicadas, outras exageradas ou inadequadas.
Um bom designer não é um super-herói, que tira soluções fáceis da cartola. Ele também não inventa a roda desnecessariamente todo o dia. Ele tem, sim, a responsabilidade e a capacidade, para que, atendendo ao que lhe foi solicitado, encontrar soluções criativas, econômicas e viáveis para marcas, produtos e empresas.
Não tenho o objetivo de aumentar a importância do trabalho de um designer, alegando que é tão difícil como um dos 12 trabalhos de Hércules. Gostaria apenas de fazer com que todos, e principalmente os clientes, conseguissem visualizar e compreender, um pouco, como acontece o processo criativo. Eu sei que não é fácil. Falo por mim, que como espectador, a vida toda pensei que Julie Andrews, para viver a alegre noviça que passou a governanta e conquistou o capitão, bastou tirar o hábito, colocar o avental e sair cantando pelos Alpes.
* Luiz Renato Roble é designer, consultor de Identidade Estratégica e diretor de Criação da DATAMAKER DESIGNERS.
E-mail: [email protected]

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