Novas utopias para um novo país

Por Ivan Carneiro Gomes Essa última eleição presidencial talvez tenha sido também a última utopia por "mudanças" de uma geração que viveu a ditadura …

Por Ivan Carneiro Gomes
Essa última eleição presidencial talvez tenha sido também a última utopia por "mudanças" de uma geração que viveu a ditadura militar por mais de 20 anos. O ex-presidente João Goulart foi deposto em 1964 falando em "Reformas de Base". Quem já passou dos 50 sabe muito bem o que significa o novo período de prometidas reformas: mais uma longa espera por transformações reais e objetivas que tirem um país de economia emergente como o Brasil, do imenso atraso e miséria social.
Será que desta vez será diferente?
No Brasil há sempre uma barreira a ser superada para que só então surjam condições de o povo viver com dignidade e justiça social. Está na hora de refletir: será coincidência? Um propósito divino não revelado? Ou uma articulação sistêmica proposital para postergar nosso futuro comum?
Durante a década de 70, a economia brasileira cresceu a taxas superiores a 10% ao ano e o governo militar informava que era preciso "deixar o bolo aumentar para depois distribuir a renda". Não havia eleições diretas porque estava em marcha uma "lenta e gradual abertura política". Os herdeiros do "país do futuro" precisavam aguardar.
No início da década de 80, a dívida externa era de US$ 100 bilhões. Num país quebrado, o movimento das "Diretas Já" pôs fim à ditadura. A "eleição-indireta" gerou Tancredo-Sarney e o "Plano Cruzado", que daria chances para as "reformas". Depois veio a "Constituição-Cidadã" em 1988. Assim que promulgada, diziam, o país mudaria. O que se viu foi o início de um movimento pela sua reforma.
Em 1989, a primeira experiência de "eleições diretas" levou Collor-Itamar ao poder, a volta do "Cruzeiro" e um confisco sem precedentes na poupança dos brasileiros. Deposto Collor, o vice Itamar Franco decidiu trocar a moeda emplacando o "Plano Real" que, este sim, "mudaria o Brasil".
Em 1994, Fernando Henrique Cardoso vendeu estatais consolidadas e inaugurou uma política para atrair investimentos estrangeiros. Com o fim da inflação, o crescimento econômico viria logo no ano seguinte. Em 1999, os primeiros reflexos da globalização com a crise na Rússia o real foi desvalorizado e o Brasil foi salvo por US$ 40 Bilhões de empréstimos do FMI.
Chegamos ao final de 2002 com inflação crescente e a sensação de que nada mudou. Há, sim: o Brasil sagrou-se campeão mundial em concentração de renda, corrupção, violência e juros elevados de 26,5% que só beneficiam grandes aplicadores.
Só como referência: a Espanha passou de uma ditadura para uma democracia na década de 70. Fez uma nova Constituição em 78 junto com um pacto social e modernizou sua economia a partir de 1990. Hoje é um dos países mais prósperos da Europa. Qual o segredo?
Nossa Constituição completa 15 anos, com artigos que ainda não foram regulamentados. E não parou de ser reformada.
Na prática, o que muitos brasileiros vão percebendo é a lenta e gradual perda dos seus direitos, garantias e oportunidades de trabalho. Ano a ano, vamos medindo esforços de tolerância para suportar o insuportável e tentar entender um país multiplicado por dois em 30 anos: de 90 para 180 milhões de habitantes.
Há tanta desigualdade e uma força jovem acima de 15 anos que precisa tomar consciência do seu futuro e criar novas utopias. Há tanta gente que não sabe, nem tem a menor idéia de que este país já foi mais feliz!
O que fazer? Talvez manifestar indignação seja um bom começo. Talvez exigir mais conteúdo sobre o que é informado na mídia. Talvez tomar consciência da verdadeira cidadania ou até buscar informações sobre o país real em que vivemos: aquele que está sendo reformado hoje para você viver amanhã! Feliz 2030!".
* Jornalista especializado em Tecnologias da Informação, ex-presidente da Associação dos Jornalistas de Economia do Rio Grande do Sul( Ajoergs) e fundador da ONG Movimento pela Segurança, Cidadania e Paz.

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