O aprendiz e os covardes

Por Odilon Abreu* É no que dá quando Tartufo fala sem script. Ostenta toda a vitoriosa coragem de quem não tem nenhum resquício de …

Por Odilon Abreu*
É no que dá quando Tartufo fala sem script. Ostenta toda a vitoriosa coragem de quem não tem nenhum resquício de senso crítico. No mesmo dia, em mais um passeio internacional, o Presidente da República, em tom de brincadeira, revela o que efetivamente pensa. Foi ao Gabão para apreender com o ditador Bongo, como permanecer no poder por 37 anos, com direito a reeleição. É fantástico. Mas, não precisaria atravessar o oceano para obter tão edificante lição. O seu mestre maior, a quem já declarou publicamente acendrado amor, aqui perto, na ilha caribenha, permanece no poder há mais de 41 anos, com todas as reeleições imagináveis. Contudo, o Presidente precisa diversificar seu aprendizado. Necessita de uma experiência que também satisfaça seus novos aliados da direita.
Não contente, o Zaratustra de Garanhuns ataca os jornalistas, taxando-os de um ¨bando de covardes¨. Aliás, qualificar os outros com coletivo de bandos faz parte dos vícios de linguagem do Presidente. Primeiro foi o bando dos 300 picaretas que compunham, segundo ele, o Congresso Nacional. Depois veio o bando dos militares. Todos são bandos. Não menciona, porém, o seu. A que bando pertence o corajoso Presidente? Ao bando dos que não estudaram, porque não quiseram? Pois, mesmo na madureza, um bando brilhante de brasileiros foi buscar conhecimento; capacitando-se para as mais diversas atividades. Pertence ao bando dos sindicalistas profissionais, que nunca ocuparam chefias médias no seu ofício, mas habilitaram-se pelas manhas da política a cargos e tarefas para os quais não revelaram o menor preparo. Que tendo tempo ocioso, não tiveram vontade ou a menor preocupação de aperfeiçoamento, mesmo aspirando nada menos do que a Presidência da República. O pior é que deu certo.
Mas, não haverá em suas palavras alguma verdade? Parece que sim. Como se pretender que os verdadeiros jornalistas tenham a coragem de defender a proposta pelega do conselho inquisitorial? De colocar as algemas nas próprias mãos e a forca no próprio pescoço?
Ah! Muitos deles não eram nascidos e o pleito já existia. Muitos deles também não eram nascidos e Fidel e Bongo já eram ditadores também. Para quem recebeu formação mínima, os fatos da História e os valores da civilização não passaram a existir a partir do seu nascimento. Vêm do conhecimento e da herança civilizatória.
Há, contudo, alguma verdade absoluta nas falas presidenciais. Restringir as atribuições do Ministério Público; tornar subalterno o Judiciário; calar a imprensa ou torná-la dócil e submissa, pelos favores econômicos, são lições indispensáveis a um aprendiz de tirano. E como essas lições eles apreendem depressa, parece que de modo audodidático.
Há veículos de comunicação e jornalistas covardes, sim. Ou onde estão agora aqueles que diuturnamente atacavam o presidente Fernando Henrique, chegando à suprema arrogância de proporem sua renúncia logo no início de um mandato legitimamente recebido das urnas?
Onde estará a coragem dos que tripudiavam sobre um Presidente que muito leu e sabe ler muito melhor do que eles? Por que estão calados e voltaram aos temas amenos e distantes ou às coisas do futebol? Não é estranho que não tenham a coragem de fazer autocrítica e confessarem seus erros quando ajudaram a induzir a opinião pública de que as tarefas da Presidência da República poderiam ser exercidas por alguém que, além de nunca ter lido, revela incapacidade e desprazer, para ler qualquer documento do ofício a que se propôs. E o que é mais grave, faz profissão de fé da ignorância, expressando desprezo pelo conhecimento alheio, ao afirmar que a formação regular é desnecessária ao exercício da suprema magistratura da Nação. Intelectuais, verdadeiros ou falsos, que vivem diretamente da palavra escrita, ou da herança desta, ganharam sua remuneração desancando um Presidente culto, possivelmente, porque aquele poderia lê-los e, como teve a grandeza de fazê-lo, até de elogiá-los. Por que criticariam um Presidente a quem ajudaram eleger, mas que sabem é incapaz de ler uma bula de remédio? Porque ele não irá lê-los. A estes o seu Presidente agride com razão. A coragem não é o traço marcante de suas biografias, basta que se lembre o seu silêncio quando a cobra fumou.
Ou, por outra, porque iriam criticar o companheiro presidente só porque, além de continuar admirador de Fidel, incluiu Bongo em sua galeria de mestres. E, quanto aos colegas chamados de covardes. Dirão - eles são mesmo, pois não defendem o Conselho e por isto não tem a coragem, que nós temos, de candidatarem-se a uma boquinha ou mordomia, que sempre poderá vir de quem tem doce para dar.
* Odilon Abreu é advogado. O artigo foi publicado originalmente no site www.diegocasagrande.com.br

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