O colaborador

Por Antonio de Oliveira Por onde passei, e passo há muitos anos, décadas, nunca concordei em ser chamado de colaborador pelos inúmeros patrões que …

Por Antonio de Oliveira
Por onde passei, e passo há muitos anos, décadas, nunca concordei em ser chamado de colaborador pelos inúmeros patrões que tive que aturar. Até porque essa mania chegou quando eu já estava ultrapassando o meio da longa estrada.
Mas não posso evitar de ler e ouvir, inclusive aqui no Coletiva.net, as pessoas taxarem os trabalhadores de colaboradores. Fico pensando sobre a razão de alguém não gostar de chamar as coisas pelo nome certo. Trabalhador é trabalhador. Para sempre. Colaborador pode ser eventual, passageiro. É cínico. É falso.
Será que chamam de colaborador com medo de que ele crie vínculo?
"Atenção colaborador fulano de tal, compareça ao setor de frutas e verduras!". Já ouvi algo assim num supermercado e confesso que me senti mal. Mentiroso. Deu vontade de ir lá para aquele setor e aguardar a chegada do sujeito para perguntar-lhe se sentia bem ao ser chamado de colaborador. Se sentia um colaborador ou um trabalhador.
Para mim, chamar um trabalhador de colaborador tem um objetivo: mostrar que ele não faz parte do contexto. Desqualificar. Colabora, não trabalha. Desvincula, no caso de uma empresa familiar, da empresa e da família, e o coloca lá longe, impõe uma distância, para que ele não fique pensando que faz parte.
O trabalhador é perigoso. É metido. Vive querendo direitos sobre isto, sobre aquilo. Pode querer vir a ser dono. Já pensou? Por isso, deve ser evitado. Vêm como há uma mania de festejar o Dia do Trabalho e não o Dia do Trabalhador? É por isso, também.
Só vejo o trabalhador como colaborador quando examino a coisa pelo lado dos patrões. Estes, sentem nas suas contas bancárias o quanto seus trabalhadores são importantes, colaboram para engordar seus lucros. Ai, eles são verdadeiramente colaboradores. Colaboram com sua força de trabalho, seu suor, e, geralmente, recebem salários não condizentes.
Os sindicatos deveriam posicionar-se contra esta moda inventada pelos especialistas em recursos humanos. Ou em explorar recursos humanos.
Trabalhador é trabalhador e não é outra coisa. Nunca será.
Certa vez, no movimento sindical, tivemos que enfrentar um ministro do Trabalho que dizia orgulhar-se de ter iniciado sua vida dentro de um banco como contínuo e acabado como diretor da instituição. Sabe o que aconteceu? Negou-se a receber um grupo de sindicalistas. Esquecera que um dia fora trabalhador.
Tivemos que ameaçar um acampamento no andar em que ele tinha seu bunker. E ele só aceitou falar com os trabalhadores no corredor. No seco. Sem água nem café. Todos de pé. Nem cadeiras ofereceu. Este ministro, sim, era um colaborador. Foi cínico, falso.

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