O conhecimento de acordo com Fidel

Por Poti Silveira Campos Que tal conhecer o mundo sob a ótica de Fidel Castro? Agora, ficou mais fácil. É que Cuba lançou, nesta …

Por Poti Silveira Campos
Que tal conhecer o mundo sob a ótica de Fidel Castro? Agora, ficou mais fácil. É que Cuba lançou, nesta semana, uma versão socialista da enciclopédia colaborativa Wikipédia. Batizada de Ecured ( www.ecured.cu), a página tem navegação um tanto lenta e precária e está sob responsabilidade da União dos Jovens Comunistas, instituição controlada pelo regime de Raúl Castro. Até a última sexta-feira, havia 19.752 artigos disponíveis, 41,7% (8,2 mil) deles relacionados a aspectos históricos e geográficos do país. Certamente, uma boa fonte de consulta sobre a Ilha. O mais interessante, porém, fica por conta de outros verbetes.
Para a enciclopédia cubana, a concorrente Wikipédia tem a "confiabilidade nas questões históricas e contemporâneas (?) questionada a partir de abordagens parciais ou tendenciosas". Nada disto, é claro, ocorre em Ecured. Na ótica dos Castros e dos paradigmas insofismáveis da revolução, os construtores da página devem considerar que o projeto está marcado pela isenção. Veja, por exemplo, a imparcialidade do texto dedicado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Juntamente com líderes latino-americanos como Hugo Chávez e Fidel Castro, tem enfatizado o abuso cometido desde sempre pelas potências imperialistas na América Latina". O balde da imparcialidade é chutado para mais longe quando o assunto envolve os Estados Unidos, "o império de nossa época".
De acordo com Ecured, os EUA se caracterizam "historicamente por despojar à força a outras nações e países de territórios e recursos naturais para colocá-los a serviço de suas empresas e monopólios. Consome 25% da energia que se produz no planeta, e apesar de sua riqueza, mais de um terço de sua população não tem assistência médica assegurada". O presidente Barack Obama - assim como a sucessora de Lula, Dilma Rousseff - ainda não tem verbete, mas chega a ser quase hilária a apresentação do antecessor George W. Bush: "Vários especialistas o têm descrito como 'um homem branco que pensa que é Deus'. Dá continuidade a uma longa tradição familiar de negócios sujos, às armadilhas e às intrigas do governo que começou com seu avô, o senador Prescott Bush, e continuou com seu pai, George Bush". É bem possível que Bush se considere acima dos demais mortais, mas trata-se de uma definição um tanto estranha para sóbrios textos enciclopédicos que se pretendem imparciais.
Por outro lado, o ditador soviético Joseph Stálin, considerado um dos maiores genocidas de todos os tempos, cometeu "erros graves incompatíveis com a ética revolucionária". O que seriam estes erros graves? A explicação de um deles vem assinada por ninguém menos do que o "Comandante em Chefe Fidel Castro Ruz". Castro relembra a suposta bobeira cometida por Stálin em 1941, ao não se prevenir diante da possibilidade de agressão alemã. "Em qualquer país, quando se vê diante de um ataque iminente, a primeira coisa a fazer é uma mobilização geral", ensina. Outra mancada do ditador foi haver "removido do posto" - assassinado ou executado aos milhares, seria mais apropriado - "corajosos oficiais da guerra civil, com experiência militar, mantendo o Exército Vermelho sem liderança experiente para enfrentar os soldados nazistas". Realmente, uma visão bastante objetiva e pragmática das atrocidades de Stálin.
Em tempo: o verbete Democracia ainda não está disponível em EcuRed.

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