O dilema da imprensa

Por Luciano Martins Costa Apenas seis em cada cem brasileiros costumam ler jornais. Para efeitos de comparação, considere-se, por exemplo, que no Japão essa …

Por Luciano Martins Costa
Apenas seis em cada cem brasileiros costumam ler jornais. Para efeitos de comparação, considere-se, por exemplo, que no Japão essa proporção é de 46 leitores em cada cem habitantes, na Noruega é de 54 para cem e, nos Estados Unidos, 19 leitores a cada centena de habitantes.
Os dados são citados na terça-feira (23/11), em reportagem do Estado de S.Paulo na cobertura do seminário sobre o futuro dos jornais que se realiza na capital paulista. O tema que mais chama a atenção da imprensa brasileira nesse evento é a integração de operações para o jornalismo de papel e para o jornalismo digital.
No entanto, há questões anteriores a serem contempladas. Na reportagem da Folha de S.Paulo sobre o mesmo assunto, por exemplo, o destaque é o caso do jornal The Times of India, que aumentou a circulação de suas edições de papel em 8% ao ano, regularmente, nos últimos dez anos.
O segredo dos indianos tem sido manter baixo o preço dos exemplares e aproveitar a ascensão social de parte da população do país, sem rebaixar a qualidade do conteúdo. Um exemplar do Times indiano custa o equivalente a R$ 0,10 e uma assinatura anual sai por R$ 45,00. O jornal tem uma circulação diária de 4 milhões de exemplares e tira seis edições diferentes por dia.
Jornalismo melhor
No Brasil, quando se trata de buscar os novos públicos promovidos pela melhoria das condições econômicas, praticamente todas as empresas jornalísticas preferiram criar ou adquirir títulos "populares", que têm pouco jornalismo e muito entretenimento.
Difícil escapar da hipótese de que algum preconceito move a decisão segundo a qual, para a nova classe média emergente, o produto adequado deve ser inferior ao que os jornais oferecem aos seus leitores tradicionais.
O tema central dos debates promovidos no seminário tem sido a convergência das mídias e o desafio de financiar o desenvolvimento do jornalismo digital com a receita do jornalismo de papel. Alguns especialistas reconhecem que é difícil mudar um modelo de negócio que durante séculos foi dominado pelos processos de impressão e construir operações multimídia rentáveis.
Mesmo com o bom momento econômico, que elevou a circulação dos diários de papel no Brasil a mais de 8 milhões de exemplares em 2009 (em boa parte por conta dos chamados "populares"), os empresários nacionais temem a perda de receita com o crescimento do número de leitores online.
O dilema poderia ser reduzido se o jornalismo oferecido, tanto em papel como pela via digital, fosse capaz de surpreender e satisfazer o leitor. Qualquer leitor.

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