O Eldorado mais distante

Por Márcio Fernandes Sou de um tempo em que a RBS reinava no Rio Grande do Sul, em que o Paulo Sant´Ana só falava …

Por Márcio Fernandes
Sou de um tempo em que a RBS reinava no Rio Grande do Sul, em que o Paulo Sant´Ana só falava de futebol na TV (e era o melhor nisso) e o Celestino Valenzuela era o narrador preferido do Estado. Minha geração cresceu sabendo que a Rede Brasil Sul de Televisão (RBS TV) era modelo até para a Globo.
Há poucos anos lembro de ter ouvido uma conferência do diretor-presidente Nelson Sirotsky (filho do fundador, Maurício, que começou o império com um pequeno caminhão de som em Passo Fundo, interior gaúcho), na qual ele demonstrava os tentáculos do grupo e como, no começo do século 21, o faturamento anual do conglomerado estaria em R$ 1 bilhão. A RBS era a vanguarda do Sul do País, sócia da CRT (companhia gaúcha de telefonia), acionista do provedor Terra, participante ativa da Net Cabo e inovadora ao lançar novos produtos, como a TV Com.
A geração logo a seguir à minha saberá desses fatos apenas como lembranças de um período áureo. Acossada pela concorrência em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e sem conseguir pisar com força no Paraná, São Paulo e Brasília, o Eldorado para a RBS está mais longe. A exemplo do grupo Diários Associados, a RBS parece não saber lidar com o simples fato da concorrência (incompetente, aliás, na maioria dos casos) existir. Há meses que a opinião pública recebe apenas más notícias quanto ao desempenho do grupo. A culpa, claro, é do mercado, segundo dirigentes da empresa. Brasil em crise, dólar alto, instabilidade devido às eleições e todas aquelas justificativas de sempre.
Como de hábito, é no andar de baixo das redações que as conseqüências são mais nítidas. A TVCOM Joinville (SC) deixou de existir há algumas semanas. As edições locais do Bom Dia, Rio Grande também ficarão na memória logo, logo, já que extintas na semana passada. E mais alguns jornalistas em SC acabam de ser dispensados, com um custo altíssimo de indenizações. Curioso é notar que os gerentes e seus superiores permanecem em seus postos, estes também com salários altíssimos.
É interessante analisar esse cenário, mesmo que rapidamente. De um modo geral, demissões sem justa causa nas redações custam muito, em termos financeiros, e aliviam as despesas do caixa da empresa somente a médio prazo. O caso é que, no médio prazo, o dito "mercado" pode se recuperar. Talvez fosse mais prudente dispensar justamente gerentes e afins, já que incapazes foram de abrir novos nichos para manter o faturamento, já que incapazes de cortar despesas de outros modos, já que incapazes de elevar a audiência mesmo com os inimigos mostrando pouco serviço.
O que estará fazendo a direção da empresa que não percebe essas premissas óbvias, deixando que funcionários do segundo escalão ditem os rumos da companhia?
* Jornalista
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