O elogio do FSM

Por Glauco Fonseca* Realmente, a cidade estava bonita. Restaurantes lotados, bares cheios, gente de diversas cores, bandeiras e nacionalidades. Não há qualquer dúvida de …

Por Glauco Fonseca*
Realmente, a cidade estava bonita. Restaurantes lotados, bares cheios, gente de diversas cores, bandeiras e nacionalidades. Não há qualquer dúvida de que um evento como o FSM é importante para Porto Alegre, assim como será importante para qualquer outra cidade, país ou continente. Isto independentemente da receita que deixa para a rede hoteleira, para os táxis, para os botecos.
Quem andou pela cidade pôde perceber o colorido da diversidade, o quanto ela é importante para o arrefecimento das idéias, para o complemento das teorias sobre a sociedade, suas virtudes e defeitos. Aquelas pessoas circulando com a bolsa do Fórum a tiracolo cumpriram uma importante missão, a de atuar na imensa comédia da vida, buscando a correção do que precisa ser corrigido, a melhoria do que precisa ser melhorado, a solidariedade àquilo que precisa do amparo.
Outra face importante do FSM, ainda que um tanto melancólica, é perceber que essas mesmas pessoas que conferem às ruas um colorido tão bonito, que buscam sob o sol escaldante pistas que indiquem um mundo melhor, sejam alvo de um processo de amordaçamento da verdade, de uma tentativa recidiva de dourar uma pílula que não pode mais ser dourada, não em tempos de Internet, não em tempos de informação sem proprietário que possa ser localizado e preso por dizer coisas contra o status quo. Esta característica do nosso tempo vale para quem está à esquerda, para quem está à direita e para quem está aqui no planeta terra, com as raras e patéticas exceções de uma Cuba ou de uma Coréia do Norte.
Agora imaginemos o FSM sem este tipo de tentativa estapafúrdia de manipulação de mentes e de futuros. Imaginemos um FSM com debates contemporâneos, com discursos factíveis, sem tendenciosidades. Vamos imaginar um Fórum Mundial que seja uma mistura de Porto Alegre com Davos, pois os problemas que são sociais também são de ricos. Um Fórum onde os discursos pudessem gerar resultados práticos e rápidos a serem adotadas imediatamente, para benefício de milhões de pessoas no mundo todo.
Vamos imaginar um Fórum Universal, que é possível, reunindo ricos e pobres, homens e mulheres de todas as raças atrás de ações objetivas e possíveis, sem politicagem barata, sem ranços ideológicos obsoletos. Vamos imaginar um evento que fizesse aquilo que a ONU não está mais conseguindo fazer. Um evento que deliberasse sobre os maiores problemas da humanidade e os atacasse sem piedade.
Este sim seria o Grande Fórum Mundial, um evento poderoso, capaz de ligar as pontas, de fazer acontecer. Um evento que pudesse fazer a luz encerrar longos túneis, que ajudasse a resolver as crises, um grande acontecimento anual que poderia ocorrer em várias cidades, em vários países, com sede na cidade de Porto Alegre. Num evento assim eu certamente acreditaria, com a convicção não de que seria necessário um outro mundo mas este nosso próprio.
Um mesmo mundo é possível, desde que prevaleça a inteligência humana e não a burocracia, a lentidão e a estupidez das ideologias radicais. O nosso mundo é possível com seres humanos mais inteligentes.
Deixemos, portanto, que se vá o FSM. Do jeito que ele é manipulado, é bom que não fique mais por aqui.
Eu, por fim, conclamo a todos para que mantenhamos um evento anual em Porto Alegre que seja filho do FSM. Mas um filho melhorado, mais democrático e pluralista.
Vamos provar que um outro Fórum Social Mundial é possível?
* Glauco Fonseca é consultor.
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