O ensino da publicidade e o novo eixo da profissão

Por Paulo Sérgio Pires

É fato que a Publicidade mudou seu eixo com o surgimento da internet, mas hoje uma grande dúvida é saber se as faculdades de Comunicação estão oferecendo egressos de acordo com o interesse do mercado publicitário. Ao que parece, muitas instituições de ensino superior estão mais voltadas para a Midialogia, ou seja, o estudo dos meios de comunicação e seus reflexos na sociedade e na cultura, sem, porém, se concentrar efetivamente na instrução ou profissionalização dos alunos para as atuais condições do mercado de trabalho da Propaganda. Há também hoje outras influências nas escolas para o atual bacharelado do publicitário que abrangem inúmeros aspectos financeiros, de markup e de gestão escolar.
Segundo a pesquisa "Perfil das Agências" da Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro), 38% dos profissionais recém-formados de PP são mal preparados; 54% são razoáveis e apenas 8% são bem preparados (no Estado de São Paulo).  Os números tabulados são seguramente um alerta para uma necessária mudança de posicionamento das instituições de ensino superior de Publicidade e Propaganda. Tudo leva a crer, que a qualidade do profissional em boa parte está ligada ao caráter instrumental do curso de Publicidade que parece ter perdido força na graduação para o estudo teórico humanístico puro em vários estabelecimentos do 3° grau. Essa mudança de paradigma pode ter várias razões econômicas ou de conveniência, mesmo assim, é importante sublinhar que ainda há ótimas instituições de ensino superior, formando publicitários com grande potencial.
Com o passar do tempo, dentro de algumas faculdades de Comunicação, determinadas matérias perderam força e foram sendo substituídas gradativamente por outras com viés mais sociológico ou antropológico.  Além disso, parece existir certa conveniência administrativa em relação ao aspecto da docência, porque hoje é muito mais fácil encontrar no mercado professores titulados com mestrado e doutorado em Ciências Sociais do que aqueles profissionais de Tecnologia da Informação ou Computação com esse tipo de diploma, e que a nova Publicidade exige. Alem disso, boa parte dos professores oriundos de PP ainda está se aperfeiçoando ou se familiarizando com as novidades cibernéticas.
O pior no novo cenário acadêmico são as escolas que infelizmente se recusam a ministrar conhecimentos essenciais clássicos para um futuro publicitário, tais como marketing promocional, live marketing, packing e produção de eventos; comunicação política e marketing eleitoral; marketing direto, marketing de relacionamento e CRM. Em certas situações preferem diluir o conteúdo em várias disciplinas, quando o indicado seria concentrar numa exclusiva, pelas suas respectivas profundidade e amplitude.
Nesse momento, é válido pensar com mais rigor na inclusão imediata nos cursos de Publicidade e Propaganda de disciplinas indispensáveis para a profissão na nova realidade global. Mesmo a contragosto de diversos alunos que preferem aulas "softs" e mais "gostosas", é necessário introduzir ou reforçar nas grades acadêmicas matérias ásperas, tais como matemática, finanças, métricas, marketing digital, tecnologia da informação, webdesign, comércio eletrônico, inteligência de negócios, neurociência do consumidor, economia da informação, e também inbound marketing, design thinking, growth hacking, criatividade cognitiva, inglês técnico instrumental, além de outras disciplinas "hards" e menos saborosas. Em certo sentido, os cursos livres e profissionalizantes costumam dar respostas muito mais imediatas e sob medida para as necessidades do mercado profissional e alguns Homens de marketing já entenderam isso.
Paulo Sérgio Pires é publicitário, jornalista e professor universitário.

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