O fim da Tribuna da Imprensa
Por Roberto Porto Assim como aconteceu com o Diário de Notícias, Diário Carioca, O Jornal, Diário da Noite, A Noite, Correio da Manhã e …
Por Roberto Porto
Assim como aconteceu com o Diário de Notícias, Diário Carioca, O Jornal, Diário da Noite, A Noite, Correio da Manhã e A Vanguarda - se é que não estou esquecendo mais de um periódico - a combativa Tribuna da Imprensa, da Rua do Lavradio, no Centro do Rio, encerrou a carreira (só está on line no momento). Sei que muitos de seus inimigos mortais estão vibrando. Sei, também, que seus funcionários entraram em férias coletivas e depois serão demitidos. Eu, porém, lamento. E lamento muitíssimo.
Trabalhei dois longos períodos na Tribuna e lá só fiz amigos - exceção feita a Valdir Figueiredo, que morreu sem me explicar a razão de deixar de falar comigo de uma hora para outra.
Trabalhei com Hélio Fernandes, homem tido e havido como de temperamento difícil e irritadiço e jamais, em tempo algum, tivemos um único, escasso e reles desentendimento. De Hélio Fernandes Filho - que quase sempre esteve à frente do jornal - digo a mesmíssima coisa. Fui editor de esportes, por indicação de Argemiro Ferreira, e, depois, editor-chefe, deixando o esporte a cargo do amigo Roberto Assaf.
Contratei muita gente, tive o prazer imenso de chefiar o falecido Arthur Parahyba Dias, e contornei, na base da amizade, uma ou duas crises internas. Fui amigo dos fotógrafos, diagramadores, arquivistas, secretárias, telefonistas porteiros e contínuos, sempre prontos a me atender com presteza. Não chorei o fechamento do Correio da Manhã, que foi revivido às custas de empresários na época dos anos de chumbo - cheguei a parar no Dops uma vez sem ter nada a ver com o peixe, porque era apenas e tão somente redator da editoria de esportes. Mas já sonhei - ou tive um pesadelo - com o fechamento da Tribuna, misturando personagens e com uma angústia inacreditável.
Diariamente, enquanto exerci o cargo de editor-chefe, conversava longamente por telefone com Hélio Fernandes. Ele gostava de saber a manchete que eu havia escolhido. E nossa conversa se prolongava quase que por horas a fio, pois Hélio, rigorosamente, sabia de tudo. De tanto ler suas colunas, acabei influenciado por ele em muitas das frases que utilizo aqui no Direto da Redação.
Aconteceu o mesmo quando, por incrível que pareça, chefiei Nélson Rodrigues (1912-1980) na editoria de esportes de O Globo. Os dois, Hélio e Nélson, digo isso sem qualquer sombra de vergonha, me influenciaram na maneira de escrever. Pelo contrário. Tenho orgulho disso.
Certa vez estava
Sei que vou provocar polêmica ou polêmicas. Mas a Tribuna da Imprensa, acreditem Hélio Fernandes e Hélio Fernandes Filho, viverá para sempre em meu coração. E detalhe: o jornal nunca me deveu um único tostão.
Nota do Editor: A coluna já estava publicada, quando recebemos nota oficial do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, com o seguinte teor:
A edição impressa da Tribuna da Imprensa volta às ruas amanhã, pela primeira vez, desde que teve sua circulação suspensa no último dia 2. O jornalista Helio Fernandes disse que a partir de agora, temporariamente, a Tribuna terá distribuição semanal, sempre na quinta ou na sexta-feira. "O jornal não pode morrer", destacou.
Roberto Porto é jornalista há 43 anos (atualmente na ESPN Brasil), com passagens pelo Jornal do Brasil, O Globo, Correio da Manhã, O Dia, BlochEditores e rádios Nacional, Tupi e Globo. Publicou ?História Ilustrada do Futebol Brasileiro?, com João Máximo, ?Botafogo - 101 anos de histórias, mitos e superstições? e ?Gírias do Futebol?, com Carlos Leonam.
*O artigo foi publicado originalmente em www.diretodaredacao.com.