O fim do ‘CQC’

Por Gabriel Bocorny Guidotti Em 2008, quando do início do programa Custe o Que Custar (CQC), a Rede Bandeirantes apostava num formato que era sucesso em …

Por Gabriel Bocorny Guidotti
Em 2008, quando do início do programa  Custe o Que Custar ( CQC), a Rede Bandeirantes apostava num formato que era sucesso em outros países. O conteúdo investigativo, salpicado de bom-humor e focado no serviço à população, fez do  CQC um sucesso em seus primeiros anos. Dali brotaram alguns talentos até então desconhecidos do público brasileiro. Destaque-se Monica Iozzi, atualmente na Globo, e Danilo Gentili, que comanda seu próprio programa de  talk show no SBT.
À época, o programa surgiu como uma alternativa ao baixíssimo nível - em conceito e conteúdo - do humor na televisão brasileira. Sem apelação, não havia esquete que se destacasse na telinha. Nesse sentido, o  CQC promoveu uma reformulação, sob a premissa de "humor inteligente". Incapaz de lidar com o formato, o Senado Federal proibiu o acesso de repórteres do programa. Prefeituras e empresas privadas também sofreram nas mãos da postura incisiva e investigativa de Marcelo Tas e companhia.
De 2008 a 2015, o mundo mudou. Os gostos da audiência se adaptaram. E a crise dos veículos de comunicação se agravou. Em vista disso, a Band anunciou a exclusão do  CQC em sua grade de programação para 2016. Em comunicado, a emissora declarou que o programa passará por um "ano sabático", para retornar somente em 2017. Difícil de acreditar. A bem da verdade, o formato se esgotou. A adição e remoção de produtos faz parte do contexto de todas as empresas que ambicionem permanecer competitivas.
Enquanto sustentado pela proposta de investigação, o  CQC teve êxito. Revelou mazelas gravíssimas, especialmente as relacionadas ao poder público. Nos últimos anos, todavia, a despeito da reforma que tirou Marcelo Tas da bancada e colocou o ator Dan Stulbach no lugar, o programa caiu demais em qualidade. Passou a apostar exclusivamente na polêmica como forma de conquistar o público. Além disso, as edições começaram a ditar o ritmo das reportagens.
Em inúmeros casos, as matérias não tiveram pudor de cortar depoimentos que favorecessem a voz das pessoas ou empresas que o programa acusava. Isso é o que de mais nocivo há na imprensa. Mas o início da queda do programa é anterior. Um dos principais pilares do  CQC era o polêmico Rafinha Bastos, que indiscutivelmente se destacava sobre os demais. O problema de Rafinha? Ausência de freio. Ele não sabia medir suas palavras. Num comentário isolado, disse que "comeria Wanessa Camargo e o bebê". A declaração foi espetacularizada pela mídia. A indignação de Wanessa virou a indignação de todas as mães do Brasil. Rafinha foi afastado, mas depois retornaria à Band. Retornaria para sair novamente do extinto  Agora é Tarde. O  CQC ficaria à deriva, com mais do mesmo. Matérias sem sal, repetitivas, que apostavam menos na informação e mais na polêmica. O humor também se tornou apelativo, com excesso de palavrões. Apesar de um começo promissor, nem Stulbach foi capaz de levantar um formato falido.
CQC foi vitimado por um mal que assola a TV brasileira. O desespero pelo ibope - em constante queda com a competição da internet - está levando as emissoras a fazer programas que garantam números, não importando os meios. Enquanto produzia jornalismo, o  CQC funcionou. Se, de fato, voltar em 2017, a Band deverá trazer de volta o que deu certo. De outro modo, a memória da televisão brasileira ganha um novo capítulo.
Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo. Assina o blog gabrielguidotti.wordpress.com

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