O futuro dos jornais. Têm futuro?

Por Marcelo Beraba Os jornais brasileiros festejaram, cada um a seu jeito, o aumento de 4,1% de circulação em 2005. A comemoração faz parte …

Por Marcelo Beraba

Os jornais brasileiros festejaram, cada um a seu jeito, o aumento de 4,1% de circulação em 2005. A comemoração faz parte do jogo comercial. Mas é evidente que a situação dos diários, principalmente dos grandes, continua crítica.


Folha, O Estado de S.Paulo e O Globo, os três maiores e com mais prestígio, vendiam juntos, em 2000, uma média diária de 1,162 milhão de exemplares. Fecharam 2005 vendendo 813,7 mil exemplares diários. Uma perda de 348,5 mil exemplares por dia, uma queda de 30% em cinco anos. É como se um dos três tivesse deixado de circular.

A Folha pode se sentir aliviada porque parou de cair. Ela vendia 440,7 mil exemplares por dia em 2000, caiu para 399,7 mil (2001), para 346,3 mil (2002), 314,9 mil (2003) e para 307,7 mil (2004). Fechou 2005 com uma média diária de 307,9 mil exemplares. Cresceu (se é que se pode usar o verbo) apenas 200 exemplares por dia em relação a 2004.

Ainda assim, segue como líder de venda no país, com uma razoável distância em relação aos seus mais próximos concorrentes, O Globo (que caiu de 322,5 mil exemplares por dia em 2000 para 274,9 mil em 2005) e O Estado (queda de 399 mil para 230,9 mil).

É evidente que todos têm de estar preocupados, apesar dos discursos otimistas. O que está acontecendo com os jornais? Vários fatores atuam simultaneamente, como a concorrência com novas mídias, o crescimento ininterrupto da internet e o fluxo livre de informação, a chegada dos blogs de notícias, as mudanças de comportamento, a falta de investimentos por conta da crise financeira.



Há sinais contraditórios. A circulação continua baixa, com uma reação tímida, mas o faturamento publicitário aumentou, segundo os próprios jornais. E a credibilidade? A única pesquisa que conheço, do Ibope, feita em maio do ano passado, indica que os jornais são muito bem avaliados, embora a minha limitada experiência diária sugira que os leitores estão cada vez mais críticos e questionadores. Irritados, também.


O futuro dos diários é um tema presente hoje nas áreas comerciais da indústria jornalística e nos centros de pesquisa e reflexão universitários. Não estou seguro de que os jornalistas estejam dando a atenção devida.


Para contribuir para a discussão, reproduzo um trecho do último artigo de uma longa série produzida pelo jornalista Matías Molina no "Valor" sobre os 17 principais jornais do mundo. O texto foi publicado no dia 17 de fevereiro com o título "O futuro dos jornais".


Trata dos principais problemas que os maiores e mais prestigiosos jornais do mundo estão enfrentando, como a queda de circulação, a perda de classificados e o desafio de ganhar dinheiro com a internet. Dois trechos, para estimular o debate:
 
"Qual é o futuro dos grandes jornais? -Se é que têm algum. Conseguirão adaptar-se e continuar desempenhando seu papel de informar e refletir sobre a sociedade, estabelecendo como até agora a agenda dos debates e as prioridades e os objetivos de seus respectivos países? Ou são, sem sabê-lo, os dinossauros da história da comunicação, destinados a desaparecer lentamente, devorados pelo avanço da tecnologia, tendo como sua última contribuição à humanidade a preservação das florestas? (?)


Há um consenso entre os observadores do mundo da comunicação de que o futuro dos jornais depende em parte da qualidade da informação que conseguirem colocar à disposição do leitor. É também provável que haja, de certa maneira, uma volta ao modelo do século 19, quando os jornais de elite custavam mais caro, mas eram lidos por uma elite. Um modelo possível é que esses jornais tenham no futuro uma circulação inferior à atual, talvez com menos páginas, mas com preço de venda mais elevado. O futuro dos jornais é incerto. Mas não é certo que não tenham nenhum futuro."

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