O Gauchão da propaganda

Por Alexandre Assumpção Ontem houve um debate na sede da ARP sobre o Criarp, que vem caindo vertiginosamente em número de inscrições. Não pude …

Por Alexandre Assumpção
Ontem houve um debate na sede da ARP sobre o Criarp, que vem caindo vertiginosamente em número de inscrições. Não pude estar presente, então aqui vai minha modesta contribuição. Galera, a gente ostentou. A gente tinha, no Salão da Propaganda, um Gauchão. E fomos viajando em cima disso e o transformamos em um Champions League pra nossa mãe ver. Só que por causa da crise financeira, mas também a provocada pelas mudanças rápidas que estão acontecendo no mundo e nas pessoas, não dá mais. Outros eventos inflados de segmentos difíceis, como moda, por exemplo, também estão em crise.
Está na hora de olhar e ver as coisas como elas são e o que nós temos: um Gauchão. É bacana, é bem jogado, bons atletas, boas equipes. Mas é um reflexo do que é jogado aqui. Lembro de júris de Salão da Propaganda que ficavam discutindo quais seriam os critérios: se compararíamos as peças com o que tínhamos ali ou com a propaganda paulista ou com a propaganda do mundo ou a da Archive. Eu sempre opinei por compararmos com o que tínhamos aqui no Rio Grande do Sul, atual e passado, com algum olho em São Paulo. E era isso.
Não temos a verba dos americanos, não temos o humor dos ingleses, não temos clientes japoneses ou holandeses. Nossa realidade é difícil, suada mesmo. Campo de várzea, muitas vezes. A bola é quadrada. E quando é redonda, é de capotão e molhada. Nesses últimos anos vi (e às vezes participei) de coisas incríveis. Campanhas (reais) com ideia, inteligência, planejamento, assertividade, um nível acima do que pode ser feito aqui no Gauchão, ops, no mercado gaúcho da propaganda diariamente.
Elogiei, defendi e premiei peças as quais acreditei excelentes, mesmo quando eram de pessoas por quem, digamos, eu não tinha tanto apreço. Vi excelentes craques surgindo e amadurecendo e vi também alguns indo embora, para jogar em times do centro do país e até mesmo no estrangeiro. Tenho absoluta certeza que somos um celeiro de craques, com talentos comparáveis aos melhores do mundo. Mas tenho consciência de que talento sem estrutura, sem verba, sem torcida e sem boa vontade é romantismo em campo. Já falei isso para minha mãe e ela disse: "É lógico!".
Gauchão não é ruim, e é o que temos. Então vamos nessa, reorganizar os times, começar o Gauchão pelo interior. As agências do interior são nossos "celeiros de craques" e conseguem fazer um trabalho muitas vezes criativo que deve ser observado. Divida-se o estado em regiões, em três ou quatro mini-salões, e traga-se os ouros pra jogar a final em Porto Alegre junto com as agências daqui.
Façamos uma votação mais simples, na ARP mesmo, sem totens, cubos mágicos, coffe break, ostentação. Elimine-se o excesso de categorias. Premie-se os profissionais e as agências, afinal são elas os nossos "clubes" e merecem seus méritos em um mercado tão difícil de jogar. Depois, nos reunamos em um coquetel simples, em um lugar mais alternativo e menos ostentativo, mais informal, mais cool, olhemos as peças premiadas, tiremos umas fotos, encontremos os amigos, paguemos pelos drinks e vamos jantar fora com quem realmente nos interessa, aquelas pessoas que marcaram nossas vidas e nossas carreiras, e era isso.
Não entendo o momento como ruim. E sim como um momento em que podemos relaxar e ser o que realmente somos. E como no Gauchão do futebol, vamos vibrar, comemorar, tocar flauta e, dois, três dias depois, voltar para a realidade de nossos campinhos e trabalhar duro. Não acho que isso seja uma derrota. A única derrota é perder a paixão. Seja em campo ou na vida profissional. Sempre dá para melhorar a forma física, trocar as redes, drenar o campo, ampliar o clube, usar uniforme novo. Joguemos uma pelada, então. Todo mundo sabe o quanto pode ser divertido. E renovador.
Observação final: nada contra o que foi feito até agora e nos trouxe até aqui. Foi um trabalho de heróis em campo. Mas o jogo agora é outro, apenas isso. Apenas acho.
Alexandre Assumpção é diretor de Criação da Moove Comunicação Transmídia.
[email protected]

Comentários