O novo conceito de startups nas agências de comunicação

Por Sergio Pellizzer

Mais por necessidade do que por um genuíno desejo de seus líderes, as agências de comunicação estão, de fato, se transformando. É o maior processo de readequação e disrupção dos seus modelos de atuação e remuneração, a qual acompanhamos nos últimos tempos.
Algumas mais, outras menos, mas todas de alguma forma estão vivenciando a implementação de um conceito bem difundido  e já experimentado, o de ser uma startup para cada um de seus clientes. A premissa básica é melhorar algo que já existe ou um jeito diferente de fazer a mesma coisa, expandindo o campo do storytelling restrito para a narrativa da criatividade aliada à tecnologia e ao business da marca. Inovação, em todos os sentidos.
É fato notório e repetido por muitos interlocutores do mercado que a fórmula de comprar mídia - modelo no qual as agências brasileiras se sustentaram por décadas - está perdendo impacto e resultado junto aos anunciantes.  Com a digitalização e o empoderamento do consumidor - todos com um smartphone na mão, que viraliza qualquer informação -, marcas estão se conectando diretamente com seu target. É necessário reinventar nosso negócio, definitivamente, e esse é um caminho.
Nesse contexto, agências que atuam cada vez mais dentro do negócio de seus clientes estão em vantagem. Não somente como "agenciadoras" de mídia e criando conceitos para campanhas, mas liderando estratégias para a marca: gerenciando equipes de vendas, monitorando diferentes áreas, desenvolvendo times de trabalho, pesquisando mercados e consumidores, definindo estruturas, participando no risco, atuando como consultores e criando soluções em diversos setores. Para que tudo isto possa fluir de forma harmônica, a transparência é fator crítico de sucesso. Transparência na negociação, no melhor uso do dinheiro do cliente, no modelo de parceria etc.
A quebra de processo e modelos tradicionais de trabalho, visando agilidade e entrega, que é um conceito perene nas startups, pode ajudar a estruturar uma nova dinâmica de trabalho mais interessante para a agência e também para o cliente. Como diria Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial: "Neste novo mundo não é o peixe grande que come o peixe pequeno; é o peixe rápido que come o peixe lento". Quem se adaptar a esse novo mundo mais rápido, sobreviverá.
Se a agência está inserida dentro do cliente e tem uma atuação organizacional nos moldes de uma startup, se torna mais ágil na tomada de decisão e na ação proativa. Um agente realmente estratégico. Pode atuar dentro do cliente com times descentralizados, menores, mais ágeis, utilizando muito mais recursos tecnológicos, que irão gerar novos negócios, serviços e, principalmente, produtos.  Criando, assim, um modelo sustentável e rentável para ambos os lados.
A maioria das grandes empresas (dos seus executivos), clientes das agências, prefere não arriscar ou investir em grandes inovações. Se derem certo, podem render bônus e promoções mas, se ocorrer falhas, também podem render a perda da função corporativa. Dessa forma, é difícil encontrar incentivo a grandes mudanças, principalmente em produtos e serviços. É melhor errar como todo mundo, do que tentar fazer o certo. É nessa hora que a agência diferenciada, atuando sob conceito de startup, se torna o parceiro ideal.
Há flores mas também espinhos por todos os lados. Se fizermos um paralelo com as startups no geral, a maioria falha. Isso é um dado. O canal de notícias Mashable e o jornal britânico The Guardian, por exemplo, trazem esse número de falhas em 90% (dados de 2015). Para que o modelo de startups dentro das agências tenha êxito, é preciso primeiro atrair pessoas e projetos certos, desenvolvendo um intercâmbio de vantagens.
De um lado pessoas engajadas, dedicadas, comprometidas com o projeto, acessíveis, democráticas, colaborativas. De outro, parceiros dispostos não somente a ceder estrutura e investir financeiramente no projeto, mas que possam atuar como mentores criando programas de aceleração e utilizando muito networking.
É nessa parceria que surgem equipes dentro das agências que passam a pensar no negócio de seus clientes e no desenvolvimento de novas plataformas e produto. Essa é a disrupção no modelo de atuação das agências, que faz com que inovem e criem novos negócios, mudando protocolos. Porém não se deve perder a essência de um parceiro de comunicação no modelo de operação.
A cultura e o modo de trabalho das startups devem estar no coração dos novos modelos de agência, funcionando de maneira mais orgânica e integrada, sem processos em série e departamentos isolados, pensando sempre no desenvolvimento e na melhoria do negócio.
Seja bem-vindo ao novo mundo das startups no mercado de comunicação. Tecnologia no DNA de todos e foco em um negócio que seja inovador, repetível e escalável.
Sergio Pellizzer, sócio e CEO da agência Criah.

Comentários