O peixe de amanhã no stories de hoje

Por Jolie de Castro Coelho, para Coletiva.net

O stories de hoje garante a paciência para assistir o de amanhã. A licença poética da frase é por não querer cair no clichê de iniciar mais um texto voltado à área de Comunicação com o tradicional: o jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã.

Caso, entre os que aqui acompanham, existam apenas nativos digitais (essa gente jovem, com cheiro de leite, não advinda da era do rádio), vale a elucidação que a sentença não foi criada para fins de anúncio da morte dos impressos. Ela existe há décadas, quando já se entendia que a grande notícia de hoje estará nas feiras (na xepa, mesmo) servindo de embrulho para o peixe vendido.

Se já neste período era sabido que uma informação não é retida nos "trendings" da nossa vida por mais de 24 horas, quiçá agora, com a web e suas ferramentas sociais. Ou seja: é notícia velha que a nossa atenção é disputada e não temos paciência e memória para reter tudo. A diferença é que agora a proporção é de minutos.

Outro informe velho é o conceito de rede. Se espirrar, há 4.987 páginas na busca do Google de "como fortalecer sua rede", sequências de lições e fórmulas mágicas de engajamento em Facebook, Instagram, Linkedin etc. Senhores, por favor, o conceito de rede social existe desde o Homo Sapiens: relações que partilham valores, interesses e afinidades - juro que não vou citar Castells e sociedade em rede, não fujam.

A questão é que as estratégias de fortalecimento de redes mantêm a mesma essência, o que mudou foram as ferramentas - e se sobressaem os que têm domínio delas, por óbvio. Mesmo com tantos conhecimentos preexistentes, nós continuamos procurando respostas já encontradas desde os primatas.

Dúvidas? Vamos lá! Papel e caneta na mão! Um atendimento utiliza uma hora brifando o cliente pra uma única arte. Mais o redator, meia hora, soma o diretor de arte, revisão, perdi as contas (sou de humanas), mas por aí temos quatro pessoas envolvidas, umas cinco horas de trabalho. Para um card na timeline - que poderá não gerar efeito.

Agora, veja (delicie-se) uma boa interação do social media da Netflix (a fofa da vez), torna-se print para ser exibido como case em toda uma faculdade de Comunicação. Custo x Benefício? Um profissional, 10 minutos contra o mencionado antes. E ainda se for para postagem até aceitamos, mas e para um stories? Vinte e quatro horas?

Ah, sobre eles, os stories, o óbvio reflexo da sociedade sem paciência, que embrulha peixes com notícias; segura essa: ele tem 300 milhões de ativos/dia, ou seja, 37% da rede publica stories. E se for uma conta business, então? Já tem 30% mais de views (alow, empresas!).

E por falar em views, lembre-se que as timelines de Facebook e Instagram possuem play automático - só aquele rolar de tela já contabiliza visualização. Diferente dos stories, o mais fiel engajamento, visto que ele parte de uma ação (o teu dedinho passando lá pra ver).

E chegamos onde com tudo isso? Em lugar nenhum. Apenas, não se desgaste. O mais acessado hoje não dura 10 segundos e embrulha um peixe em 24 horas. Seja um primata nas redes!

Jolie de Castro Coelho é jornalista, com especialização em Comunicação Estratégica e em Marketing Digital. É coordenadora de Comunicação da Agência de Fomento Social Besouro.

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