O presidenciável e a censura

Por Chico Bruno A liberdade de informação, um dos pilares da democracia, foi mais uma vez impedida de ser exercida pela imprensa. O autor …

Por Chico Bruno
A liberdade de informação, um dos pilares da democracia, foi mais uma vez impedida de ser exercida pela imprensa. O autor da ação - e reincidente - é Anthony Garotinho, ex-governador do estado do Rio de Janeiro e pré-candidato a presidência da República pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Ele se valeu de uma liminar, expedida em 2001, para proibir a divulgação de fitas gravadas pelo empresário campista Guilherme Freire, ex-amigo e ex-colaborador da época em que Garotinho foi prefeito da cidade de Campos (RJ). A liminar, que impediu que o jornal O Globo divulgasse o teor das fitas no ano passado, é reutilizada agora pelos advogados de Garotinho para impedir a publicação de uma entrevista do empresário à revista CartaCapital.
A atitude do ex-governador é condenável sob todos os aspectos, apesar de legal. O candidato do PSB se utiliza da censura para impedir que a opinião pública conheça o material, que é do conhecimento de Garotinho e, ao que tudo indica, deve ser de alta combustão, daí a reação de solicitar à Justiça o impedimento da publicação. O jornalismo fiteiro e sem consistência, que tem sido condenado por vários observadores, ao que parece não pode ser combatido com censura, e sim com o bom senso dos editores, que infelizmente tem faltado em alguns casos na imprensa nacional, felizmente a minoria.
Segundo o editor Bob Fernandes, a revista não divulgaria o conteúdo das tais fitas, mas uma entrevista com Guilherme Freire. Fernandes informa que CartaCapital entrou com recurso na Justiça carioca, solicitando a cassação da liminar para poder publicar a matéria em sua próxima edição.
A ação de Garotinho é lamentável, pois seus advogados usaram a liminar que impede a divulgação do teor das fitas para impedir a publicação de uma entrevista com o autor dos grampos. É mais grave ainda por ele ser filiado a um partido político banido pela ditadura de 1964, e que só voltou a funcionar com o fim do regime militar. A falta de reação dos dirigentes do PSB demonstra que eles são coniventes com a censura exercida por Garotinho. Esse fato mancha a história do partido, um dos mais antigos e éticos do país. Vale a pena lembrar que durante o terceiro governo de Miguel Arraes, em Pernambuco, a imprensa brasileira denunciou casos de corrupção de sua administração e nem por isso o presidente de honra do PSB se utilizou da Justiça para impedir sua divulgação.
Essa e outras ações de Garotinho demonstram que, hoje, quem manda no PSB é ele, e não mais seus dirigentes históricos - como Arraes, Jamil Haddad, João Capiberibe, Ronaldo Lessa, Roberto Amaral, Carlos Siqueira, entre outros. É triste ver cidadãos que combateram a censura do regime militar exercendo hoje essa censura em plena democracia.
Ao tomar tal atitude contra a liberdade de informação, Anthony Garotinho demonstra que o conteúdo do material pode abalar definitivamente suas pretensões políticas, caso contrário não estaria agindo dessa forma. Infelizmente, não está havendo uma mobilização de parte das entidades de classe em defesa da liberdade de informação. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e a Associação Nacional das Revistas (Anaer) até o momento não se pronunciaram sobre o assunto, o que é uma pena, pois essa atitude pode muito bem virar novo modismo contra a imprensa brasileira.

Reagir é preciso.
* Jornalista. O artigo foi publicado originalmente no site www.observatoriodaimprensa.com.br

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