O quinto ano do século 21!

Por Sérgio Jaeger Jr. O ano de 2006 será lembrado como o ano "daquela" eleição. O que tornará memorável o pleito do ano que …

Por Sérgio Jaeger Jr.

O ano de 2006 será lembrado como o ano "daquela" eleição. O que tornará memorável o pleito do ano que vem serão três fatores principais: a falta de credibilidade institucional dos atuais detentores de mandatos que sejam candidatos à reeleição (em todas as instâncias, e de todos os partidos), a carência de recursos financeiros - fruto e conseqüência do primeiro fator; e a reação do PT - que tem no próximo pleito uma espécie de plebiscito sobre sua viabilidade futura.


A opinião pública vem debitando às instituições do sistema político, em especial aos parlamentos (congresso, assembléias legislativas, câmaras de vereadores), o ônus pelo mau comportamento de alguns de seus membros, mormente pelos episódios da CPI dos Corrreios. O comum dos eleitores não parece fazer distinção entre as audiências da comissão de ética com aquelas da CPI. Parece-lhes que os "políticos" todos estão ali, brigando, por algo que eles todos são culpados - chame-se a isso "o sistema" ou coisa que o valha, onde dois terços da população diz ter vergonha dos seus parlamentares[1]. Enquanto isso, os políticos de partidos não alinhados ao governo federal esperam herdar o espaço eleitoral que seria deixado pelos partidos desgastados pelo escândalo. E isso pode não acontecer, ou pode acontecer em muito menor grau do que o esperado.


Parte deste universo é espelhada nos financiadores de campanha: embora (provavelmente) sem mudanças estruturais no sistema eleitoral, devem minguar os financiamentos frente ao risco de exposição (e escarnificação) púbica dos patrocinadores, descompensando a eventual vantagem obtida no patrocínio.


O caso do PT é curioso: 67% dos pesquisados[2] "acreditam que o PT pagava mesada em dinheiro aos parlamentares da base aliada", mas um quinto do total de eleitores tem no PT a sua preferência espontânea. Isso só se pode creditar à crença de que existe uma "banda podre" e sua extirpação salvará o partido. Isso não deveria surpreender-nos, verdadeiramente. O eleitor do PMDB provavelmente sabe de uma "banda podre" em seu partido preferido, a identifica, mas não deixa de votar no seu PMDB. Os pefelistas do sul prefeririam o baiano Antonio Carlos Magalhães fora do partido, mas seguem votando no PFL. Há uma ala, no PP, que ojeriza Paulo Maluf. Podemos não gostar de um ou outro jogador do time, mas, em geral, seguimos fiéis torcedores. Isso é da natureza do nosso comportamento, e as exceções só confirmam a regra?


No mais, o PT vai para um "tudo ou nada" na próxima eleição - é claro que vai pagar a fatura da CPI e diminuir um pouco, mas só um pouco - não tanto quanto a maioria dos analistas acha que diminuirá. Isso porque é difícil acreditar que, contando com a "máquina" do Governo Federal para ajudá-los, os petistas abandonarão suas trincheiras sem luta?


Certamente a CPI matou e enterrou o projeto de poder de José Dirceu, Delúbio & Cia, mas não matou o projeto dos quase 40 mil cargos em comissão, dos puristas radicais, das "viúvas" do socialismo, dos românticos contestadores, dos velhos "hippies" órfãos e daqueles que não conseguiam acreditar em mais nada além da utopia moral dos petistas. Estes muitos se sentem traídos por "alguns", mas não por seus ideais. E prometem resistência.


A "memorável campanha de 2006" também precisa de uma linguagem realmente nova, para atrair a atenção dos eleitores para propostas novas, projetos novos, novos políticos: e não falo de requentar fórmulas ou reinventar a roda. O eleitor está impermeabilizado pelos santinhos iguais, pelos brindes baratos, pelos jingles clonados, por efeitos de tv que copiam a Globo em tudo. E esta nova campanha precisará acontecer em um ambiente de recursos financeiros rarefeitos? E isso será o mais difícil de vermos!


[1] Folha de S. Paulo  - ver pesquisa Datafolha de 26  de julho de 2005.


[2] Idem, base de entrevistados : 2.110 pessoas, maiores de 16 anos, em 134 municípios de todos os Estados.

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