O verdadeiro analfabeto

Por Felipe Basso O brasileiro lê 4,7 livros por ano, em média. Vamos tomar como média o número de páginas do último livro do …

Por Felipe Basso
O brasileiro lê 4,7 livros por ano, em média. Vamos tomar como média o número de páginas do último livro do Paulo Coelho: 256. Isso totaliza cerca de 1.300 páginas, se arredondarmos a média de livros lidos para 5. Para se ler 1.300 páginas, considerando dois minutos por página, temos 2,6 mil minutos, ou aproximadamente 43 horas. Ou seja, a gente não lê nem dois dias por ano. Em um ano, resulta na incrível soma de sete minutos por dia. Pior, a gente não lê nem quatro páginas de um livro por dia.
A nova ministra da Cultura, Ana de Hollanda, quer aprovar o Vale Cultura até o fim do primeiro semestre de 2011. O benefício é estimado em R$ 50 para ser gasto na aquisição de cultura para quem recebe até cinco salários mínimos (R$ 2.725,00). Aquisição de cultura, para esse fim, é compra de livros, CDs, DVDs, peças de teatro e cinema, além de espetáculos de dança.
É um terreno lamacento para se meter, esse de discutir o que é e o que não é cultura. Certamente que cultura não pode se restringir a um aglomerado de informações, de discos e livros que a gente ouve e lê. Porém, para a questão em debate, o Vale Cultura, é disso que estamos tratando. Do acesso aos bens culturais, como shows, espetáculos, teatros, livros, CDs e DVDs.
Eu gostei da ideia. Possivelmente, muitos serão contrários por que acham que o brasileiro vai gastar mal esse dinheiro. Vão dizer que Paulo Coelho não é cultura. Que filme americano não é cultura.
O lado triste, entretanto, é que muitas dessas pessoas que julgam o brasileiro pela sua falta de cultura, ou melhor, por nunca ter lido os russos, ou desconhecer a filosofia sartreana ou por não ir ao teatro ou a exposições ininteligíveis, também não o faz.
Eu conheci muitas pessoas assim. Elas não se interessam por BBB, novela ou Faustão, embora saibam quem foi eliminado porque "estava zapeando e por acaso era justamente hora do paredão". Elas acham perda de tempo assistir seriados de TV ou filmes americanos, mas nunca tem tempo para ir ao teatro, por que o trabalho as consome e à noite elas só querem descansar. Não precisamos perguntar como se dá o descanso dessas pessoas.
São elas que também colaboram para a nossa média de nem quatro páginas lidas por dia. São eles os verdadeiros analfabetos, citados pelo Mario Quintana, aqueles que aprenderam a ler e não o fazem. Talvez quem precise de estímulo para a leitura, para a cultura, sejam aqueles que ganham mais de cinco salários. Aqueles que ganham dez, vinte, trinta salários. Mas não. Esses preferem pagar vale. 

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