O viveiro das serpentes

Por Braulio Tavares A primeira estratégia do fascismo é desmoralizar a democracia. Enquanto o braço militar se arma em surdina, o braço propagandístico desencadeia …

Kris Kuksi, The House of Fascism
Por Braulio Tavares
A primeira estratégia do fascismo é desmoralizar a democracia. Enquanto o braço militar se arma em surdina, o braço propagandístico desencadeia uma antipropaganda: a divulgação maciça e constante de todos os erros e corrupções (que não são poucos) do regime democrático, para desmoralizar não só o Presidente, não só o partido governista, não só o governo, mas todo o sistema democrático de livre escolha. Ao mesmo tempo, grupos organizados elegem-se para o Congresso, garantindo uma base de suporte de que o fascismo precisará nos momentos em que, sob pressões internas e externas, tiver que passar uma tinta de legitimidade sobre a ferrugem das suas medidas.
Campanhas do tipo "Todo Político é Corrupto" servem ao fascismo porque induzem ao desânimo, ao desprezo pelos que se candidatam, e a uma receptividade a qualquer "solução excepcional" que se apresente, como o fascismo geralmente faz, com slogans moralizadores, falando em "limpeza", em "expurgo", em "eliminação" de todos que fazem mal ao País. Interessa ao fascismo fazer crer que a situação é gravíssima e requer medidas excepcionais. Interessa-lhe fazer crer que o povo é burro e não sabe votar, e que os que se apresentam como candidatos são, invariavelmente, malfeitores de algum tipo.
O fascismo se aproveita de episódios de impunidade de toda natureza: esquemas de enriquecimento ilícito, desvios de verbas públicas, nepotismo, suborno do Judiciário, indo até a impunidade dos autores de crimes comuns que aterrorizam a população: assassinatos, estupros, sequestros com morte, chacinas, etc. Quando maior o número de crimes impunes, mais receptiva estará uma parte da população à chegada de um pretenso líder "da mão forte", que vem para punir de forma rápida e exemplar os culpados, sem se deixar enredar nas firulas e nas tecnicalidades de um processo judicial. Alguém capaz de prometer e de executar uma justiça sumária e rápida contra os criminosos mais notórios, ganhando, assim, credibilidade para quando quiser agir da mesma forma contra quem quer que seja.
Historicamente, muitos regimes fascistas chegaram ao poder sucedendo (pelo voto ou pelas armas) um regime democrático onde a corrupção era generalizada (havia "falta de moral"), a violência nas ruas era ascendente ("falta de autoridade") e havia uma crise econômica ("falta de competência"). O fascismo promete à população preencher essas três faltas. A primeira, através de um discurso moralista e conservador cuja primeira providência é eliminar a possibilidade de retorno dos políticos corruptos (cancelam-se as eleições). A segunda, através da repressão policial em todos os níveis. A terceira, através do atrelamento a alguma potência estrangeira para a importação de tecnocratas, conselheiros militares, empresas, projetos, know-how e um conjunto de medidas bombásticas com efeito paliativo a curto prazo. A população se entusiasma com os "novos tempos" e ajuda o fascismo a fincar raízes.
Braulio Tavares é escritor e jornalista. Tem o blog mundofantasmo.blogspot.com.

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