Olga, uma heroína

Por Eloá Muniz* Olga é o primeiro longa-metragem dirigido por Jayme Monjardim. Produzido e roteirizado por Rute Buzzar o filme é baseado no best-seller …

Por Eloá Muniz*
Olga é o primeiro longa-metragem dirigido por Jayme Monjardim. Produzido e roteirizado por Rute Buzzar o filme é baseado no best-seller homônimo de Fernando Moraes. Mostra uma versão romanceada da história de Olga Benário e

Luís Carlos Prestes.
A história é apresentada em duas partes: a primeira prende-se à necessidade de mostrar Olga e Prestes ao público, e na segunda retrata uma grande história de amor com todos os signos constitutivos do amor romântico, o mito dos ideais, da luta, do príncipe e da maternidade. "A opção de colocar em primeiro plano o amor de Olga e Prestes foi uma forma de universalizar a história", diz Rute Buzzar.
Uma produção de 8,5 milhões totalmente realizada no Rio de Janeiro, que tem como um dos pontos altos a fotografia parecendo não ser nem preto-e-branco nem colorida. Monjardim, por preferir da ênfase à emoção, manteve um tom provocativo, explorando os primeiros e primeiríssimos planos de enquadramento da imagem, ressaltando o potencial da atriz (Camila Morgado) através de seus olhos azuis, tal como Olga. Prevaleceu sua estética pessoal, os closes alternados com as cenas grandiosas. Sobretudo prevaleceu um discurso emocional mostrando uma Olga mulher.Esteticamente belo, o filme envolve e comove.
John Ford dizia que "quando a lenda supera a realidade, publique a lenda". Olga foi uma lenda. Sua vida e a de Prestes ainda estão envoltas em mistérios e silêncio. Suas histórias estão construídas a partir de um quebra-cabeça de peças perdidas, algumas encaixadas artificialmente, ao sabor do interesse e das circunstâncias, como alguns documentos mostram: "Olga não promoveu a operação de resgate de seu namorado Otto Braun, mas o partido comunista decidiu que a história seria assim para transformá-la em um monumento de bravura", diz Willian Waak.
Novamente uma judia romântica e idealista morre na câmara de gás por ordens de um ditador do terceiro mundo. O bem o mal se defrontam. Onde está o bem? Onde está o mal? Não importa. O amor romântico tudo resgata.
O filme traz na sua construção esta ambigüidade e o mito se faz na reversão simbólica de uma profissional do serviço secreto militar soviético, treinada para obedecer em qualquer circunstância, sem jamais duvidar dos chefes e da linha estabelecida pelo Partido, disciplinada, mas sem interesse por assuntos teóricos, que ao chegar ao Brasil perdeu o foco da missão.
Ao apaixonar-se por Prestes, fragiliza-se. Determinação como "eu luto ao lado da revolução e não de um homem" ou "sentimentos de fraqueza não combinam com nenhuma missão", dão lugar a emoções tão humanas como "são tantos os sentimentos que eu não conhecia? Eu tenho medo (a perda eminente)".
O treinamento militar, a rigidez dos gestos tornam-se leves dançando nos braços de Prestes, encantada pela delicadeza dos movimentos daquele homem que andou 25 mil quilômetros liderando um grupo de solados pelo interior do Brasil, sem sofrer nenhuma derrota. Nasce o amor. Mútuo. Mítico.
Prestes, virgem aos 37 anos de idade, apaixona-se pela mulher cujas qualidades são idênticas às da mãe, senhora do próprio destino, nervos de aço e um pouco dura. "Eu admiro a minha mãe, criou a mim e minhas irmãs sozinha. Me ensinou a lutar contras as injustiças", diz Prestes.
O amor nasce da admiração, do desejo libidinoso dos corpos seduzidos e ardentes e, sem dúvida, da comunhão dos sonhos. Olga cumpre sua missão e protege Prestes com o próprio corpo. Bendito tempo em que a milícia não atirava em mulheres desarmadas. Senhora do destino, Olga, preserva a vida do Cavaleiro da Esperança, dissemina os ideais de um mundo melhor e de paz.
Presa, ela descobre a realização do supremo desígnio do universo feminino, a maternidade. Havia sido fecundada pelo mito virgem. A lenda mitifica sua saga.
Olga não tinha saída. Se tivesse voltado a Moscou, provavelmente, com sua colega militante, alemã e judia, Margareth Buber-Neumann teria sido entregue à Gstapo, fato comum naquele momento, pouco antes da Segunda Guerra Mundial.

Fora vítima de dois totalitarismos. Olga foi assassinada pelo nazismo e seus camaradas pelo comunismo.
Indicado para concorrer ao Oscar de 2005 na categoria de melhor filme estrangeiro, Olga, poderá trazer a estatueta de ouro pela primeira vez ao Brasil, pois o filme está construído bem ao gosto das produções americanas. Uma saga de amor e idealismo com um fim trágico, o mito do amor e do sonho impossível, mas sobretudo porque é a melhor produção brasileira dos últimos tempos, o homem que subiu o panteon da história ainda vivo e seu grande amor, Olga Benário Prestes.
Eloá Muniz é professora Mestre em Comunicação Social.
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