Já
fez
parte
do
anedotário
a
figura
do
funcionário
público
municipal, estadual
ou
federal
que
batia o
ponto
, pendurava o
chapéu
e o
paletó
, e saía
para
beber
um
café
na
esquina
. E
assim
passava o
dia
, de
café
em
café
,
até
a
hora
de
bater
o
ponto
novamente
e
voltar
para
casa
.
Hoje
isso
não
acontece
mais
,
porque
chapéu
e
paletó
não
estão
mais
na
moda
.
Mas
o
funcionário
absenteísta
não
perdeu o
hábito
do cafezinho.
Até
bem
pouco
tempo
bastava
telefonar
para
uma
repartição
público
para
saber
que
ninguém
podia
atender
,
pois
estavam
em
reunião
. E essa
reunião
prosseguia
hora
depois
de
hora
,
dia
depois
de
dia
,
ano
depois
de
ano
.
"Está
em
reunião
" passou a
ser
numa
tradução
livre
de "está no cafezinho". E dessa
vez
,
sem
chapéu
e
sem
paletó
.
Mas
o
que
faz no cafezinho
ou
nas
reuniões
esse
tipo
de
funcionário
público
? O
governo
italiano decidiu
investigar
esses
"fannullone", levantando a
ponta
do
tapete
para
ver
que
tipo
de
lixo
havia
embaixo
.
Para
isso
um
policial
foi
destacado
para
acompanhar
os
passos
de Santi Giccone, 58
anos
, da
pequena
localidade
de Scaletta Zanclea, na
costa
jônica
da Sicília,
nos
dias
15 e 16 de
maio
deste
ano
.
1.A
primeira
coisa
que
o "fannullone" Santi Giccone fez ao
chegar
ao
trabalho
na
prefeitura
de Scaletta Zanclea, às 7h30min, foi
bater
ponto
, passando
alguns
minutos
na
recepção
;
2.
Em
seguida
deixou a
seção
e foi
para
a
praça
em
frente
;
3.
Depois
da
praça
foi
para
um
bar
beber
o
café
da
manhã
e
ler
jornal
;
4. Voltou à
central
telefônica
,
onde
era
telefonista
, às 8h25min, e saiu
novamente
às 9h02min,
para
se
exercitar
em
videopoker numa
sala
perto
da
prefeitura
;
5. Voltou à
central
,
onde
ficou
durante
quatro
minutos
, dirigindo-se
em
seguida
à
cidade
vizinha
para
retirar
dinheiro
no
caixa
eletrônico
;
6. Voltou ao
trabalho
,
ali
permanecendo
durante
uma
hora
, o
mais
longo
período
na
jornada
, e saiu
logo
depois
para
comprar
peixe
numa peixaria;
7. Passou na
lavanderia
;
8. Fez
compras
para
si
e
para
os
seus
parentes
;
9. Voltou à
seção
, limpou a
garganta
,
para
chamar
a
atenção
dos
outros
, mostrando
que
estava
ali
, ergueu o
telefone
, repôs o
aparelho
no
gancho
, e saiu
novamente
;
10. Voltou no
fim
do
expediente
, colocando na
frente
do
guichê
dos
telefonistas
um
cartaz
,
com
os
dizeres
: "fechado
para
o
almoço
,
favor
não
insistir
".
A
tarde
foi
quase
uma
repetição
da
manhã
.
Mas
no
dia
seguinte
?
bem
, no
dia
seguinte
foi
tudo
igual
:
1.O "fannullone" bateu
ponto
,
como
de
costume
, às 7h30min;
2.
Em
seguida
foi
para
o shopping;
E
assim
por
diante
,
durante
o
resto
do
dia
.
O
policial
fez
questão
de
registrar
pequenas
diferenças
. O "fannullone",
por
exemplo
, fez
compras
,
mas
acompanhado
de
sua
mãe
, levando-a de
volta
para
casa
. E no
fim
deste
segundo
dia
,
outra
mudança
: Santi Giccone foi algemado e
levado
para
a
prisão
.
O
policial
afirma
que
ele
ficou
muito
surpreso
ao
saber
que
seria acusado de
fraude
,
com
o
agravante
de
danos
ao
patrimônio
público
. E
desde
então os moradores de Scaletta
que
discaram
para
a
prefeitura
receberam uma
pronta
resposta
do
telefonista
.
Que
não
era
Santi Giccone,
evidentemente
.
pois
ele
foi despedido
por
justa
causa
.
Mas
não
se preocupem: os "fannullone"
só
existem na Itália.
*Sérgio Capparelli é jornalista e escritor, colaborador de Coletiva.net.