Palavrões

Por Rogério Teixeira Brodbeck* No domingo do vestibular da UFPel, numa mercearia do bairro em que moro, algumas pessoas conversavam a respeito das dificuldades …

Por Rogério Teixeira Brodbeck*
No domingo do vestibular da UFPel, numa mercearia do bairro em que moro, algumas pessoas conversavam a respeito das dificuldades de aprovação e, depois, de se manter um filho na universidade, ainda que gratuita. A certa altura, disse alguém que "a maioria dos que passam no vestibular da Federal são tudo (sic) burguês?". E o disse num tom claramente pejorativo, talvez sem saber o que significa a palavra, apenas por ouvir o galo cantar sem saber aonde.
O burguês, membro da burguesia, palavra que vem de burgos e que significa povoado, aldeia, região, cidade, é um indivíduo caracterizado por atividade lucrativa, não exercendo trabalho braçal ou artesanal. Isto é, não é burguês o agricultor que pega na enxada nem o artífice que manobra o estilete, o cinzel ou coisa que o valha. Só isso, nada mais. Não é o "bicho-papão", o opressor que alguns preconceituosos tentam pintar. É o médico, o advogado, o comerciante, o empresário, o militar, o policial, o professor, o intelectual, o político, enfim,?
Um exemplo de deformação de sentido dos tantos que pululam por aí na mídia, diariamente, proferidos por pseudodefensores dos pobres e oprimidos, assim como "direita", que é outra das expressões que quando pronunciadas por alguns "iluminados", soam como um palavrão, daqueles a que nossas mães e avós denominavam "nome feio" e que hoje são pronunciados corriqueiramente, por meninos e meninas, sem papas na língua. De direita, dizem os modernistas, são os atrasados, conservadores ou como se o mundo fosse constituído só de esquerdistas (onde mesmo que eles tiveram sucesso???). Dizem que determinada pessoa é "de direita" como se ela fosse perecer eternamente no mármore do inferno. E, no entanto, direita quer dizer apenas ou "regime político de caráter conservador"(Dicionário Aurélio - Século XXI), originando-se de "grupo parlamentar que em princípio senta-se ao dado direito do presidente da assembléia e tradicionalmente constituído por elementos pertencentes ao partido conservador"(idem). Nada de feio ou depreciativo, portanto.
Outra palavra muito pronunciada pelos fulgurantes sinistros é "elite", qualificada como o mal de todos, a que oprime, esbulha, rouba, esgana, enforca, enriquece, à custa do povo! E, no entanto, elite é "o que há de melhor em uma sociedade ou grupo" (ob. cit.). Ou, em sociologia, uma "minoria prestigiada e dominante num grupo, constituído de indivíduos mais aptos e/ou mais poderosos". Ou seja, é o atual partido que detém o poder nacional um símbolo das elites, no caso, constituído de indivíduos mais poderosos - sem ser necessariamente, aqui, mais aptos. Ou seja, quando vejo um político petista ou assemelhado falar contra "as elites desse país?", parece que o dito cujo não tem espelho em casa (ou no gabinete) ou (mais provavelmente) não sabe o que está dizendo e portanto joga para a torcida (onde a novidade?).
É preciso pensar antes de sair por aí afora bradando coisas como se impropérios fossem, mas que são, isso sim, palavras normais, e em muitos casos elogios, não significando o palavrão que querem dar a entender. Aliás, se não fossem as elites, os burgueses e os da direita muito "trabalhador" não teria emprego, previdência, assistência social e de saúde porque, se dependesse dos falastrões, morreriam à míngua. Falastrões que se enquadram bem no exemplo de burguês literal: não exercem atividade braçal (e muitos nenhuma?).
* Rogério Teixeira Brodbeck é jornalista e advogado.
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