Política virtual

Por Luís Augusto Junges Lopes O que você, gremista fanático, faria para convencer um colorado a mudar de time? Contaria a ele sobre os …

Por Luís Augusto Junges Lopes
O que você, gremista fanático, faria para convencer um colorado a mudar de time? Contaria a ele sobre os diversos títulos regionais, os dois títulos do Brasileirão, as quatro Copas do Brasil, os dois títulos da Libertadores da América e, o máximo dos máximos, o Mundial de Tóquio em 1981? E você, colorado idem, o que faria para convencer um gremista a trocar de clube? Contaria a ele sobre os diversos títulos regionais, os três títulos do Brasileirão (nunca deixando de mencionar que o de 1979 foi uma conquista invicta), o único da Copa do Brasil, além de sempre alfinetar lembrando aquele Grenal de 5 a 2 em pleno Olímpico, em 1997, com três gols de Fabiano?
Pois é, tarefa difícil, não? Agora, aproveitando a época eleitoral (e, coincidentemente, de Grenal), tente, neste segundo turno, você que sempre votou no PT, a convencer um eleitor declaradamente a favor de Rigotto a votar em Tarso. E você, que botou adesivo do Rigotto na camiseta e ainda conseguiu a bandeira para colocar no carro, faça um esforço para convencer um petista a votar no candidato do PMDB. Esta situação tem se vivido - e muito - nos últimos dias, como sempre tem sido as eleições no Rio Grande do Sul, seja para presidente, seja para governador ou prefeito da capital.
As formas encontradas têm sido as mais tradicionais: passeatas, carreatas, buzinaços (alguém já ganhou eleição por causa de buzina?), bandeiras, adesivos, camisetas, bottons, etc. Entretanto, uma moderna ferramenta tem sido usada para angariar votos, que meu avô, meu pai, minha mãe jamais imaginariam que pudesse ser feita. Nos últimos anos, com a grande quantidade de usuários de computador, surgiu o corpo-a-corpo virtual.
A internet virou um meio barato de comunicação, como mandar recados, divulgar produtos - o famoso lixo eletrônico -, passar correntes e até informar sobre crianças desaparecidas. Mas, nos últimos dias, tem sido utilizada para campanha política, ainda que seus reais efeitos sejam de pouca eficácia (ou até ignorados). Todo mundo ultimamente já recebeu mensagens de um amigo, e até de desconhecido, sobre o melhor - e, principalmente, o pior - dos dois candidatos.
Na verdade, você conhece seus amigos, já sabe quem é colorado e quem é gremista. E sabe com quem pode brincar, tocar flauta, mandar uma mensagem engraçadíssima esculachando seu time rival. E sabe também quem vai respondê-la lembrando, quem sabe, aquele Grenal de 19? em que seu time perdeu feio para o dele.
No entanto, quando se trata de adversários políticos, há, claramente, uma pisada no freio. Você vota, por exemplo, no Rigotto mas seu grande amigo vai de Tarso. Você evita mandar para ele aquela mensagem sobre os cartazes de filmes que fizeram para os integrantes do PT: algo do tipo "Eu sei o que vocês fizeram no governo passado", referindo-se ao caso do jogo do bicho. Ou você vota no Tarso e seu melhor colega vai de Rigotto. Você evita mandar para ele aquela mensagem sobre cartazes de filmes bolados para o candidato da oposição: algo do tipo "Rigotto: o privatizador", referindo-se à sua ligação com o ex-governador Antônio Britto. Na política, todos nós colocamos um pé pra trás quando queremos (tentar) convencer alguém a mudar de voto, simplesmente porque se trata de escolha da razão e não da emoção (ou de pressão familiar), como é o caso do time do coração. Estamos lidando com a inteligência, a nossa e a dos outros. Queremos passar a idéia de que somos politizados, porque vivemos em um estado com alto índice de politização. Ninguém quer passar atestado de burrice. Quando aconselhamos ao nosso colega/amigo, dias antes das eleições, para que ele vote consciente, na verdade, estamos dizendo para que ele vote nos mesmos candidatos que vamos votar.
E, em última análise, a internet tem sido uma ótima ferramenta, talvez, menos para convencer você a mudar de candidato e mais para conhecer melhor seus amigos.

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