Porto Alegre e os Farroupilhas: 180 anos

Por Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite O dia 20 de setembro é o marco inicial da Revolução Farroupilha (1835-1845), que eclodiu, na Província …

Por Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite
O dia 20 de setembro é o marco inicial da Revolução Farroupilha (1835-1845), que eclodiu, na Província de São Pedro (RS), durante a Regência Una do Padre Diogo Antônio Feijó (1784-1843). Nesta mais longa guerra civil, que a história do Brasil registra, ocorreram 59 vitórias para cada lado e 3,4 mil óbitos. O lado farrapo perdeu quase o dobro de homens ao finalizar a guerra. Na época, o Rio Grande do Sul estava bastante prejudicado, no seu aspecto econômico, devido aos altos impostos taxados, principalmente, sobre o charque (carne seca), o couro e a propriedade rural.
Com a Independência da Província da Cisplatina (Uruguai), em 1828, o charque uruguaio começou a competir com a produção gaúcha.  O produto uruguaio era resultado de mão de obra assalariada (livre), tinha menos custos empreendedores, sendo vendido a menor preço. Diante deste fato, o charque gaúcho, responsável pela alimentação da escravaria de outras regiões do país, desde o Ciclo da Mineração (ouro), ficou em desvantagem, perdendo a concorrência em relação ao produto platino. Além da grave questão econômica, que atingiu a elite estancieira da Província, havia, entre outras causas, a insatisfação quanto à política centralizadora do presidente da Província Fernandes Braga (1805 -1875).
Diante do descaso do Império, em relação aos problemas sociopolíticos e econômicos que assolavam a Província de São Pedro, um grupo de maçons articulou a tomada de Porto Alegre na noite de 19 para 20 de setembro de 1835. A decisão, quanto à invasão da capital da Província, pela Ponte da Azenha, ocorreu na primeira Loja Maçônica de Porto Alegre, "Philantropia e Liberdade", fundada em 1831, na Rua do Rosário, atual Vigário José Inácio. No dia 18 de setembro de 1835, Bento Gonçalves da Silva (1788-1847) abriu a reunião que decidiu o início da Revolução Farroupilha. Estavam presentes na Loja: José Gomes Jardim (1774-1854), Onofre Pires (1799-1844), Pedro Boticário (1799-1750), Vicente da Fontoura (1807-1860), Paulino da Fontoura (?-1843), Antônio de Souza Neto (1803-1866) e Domingos José de Almeida (1797-1871).
Quando Porto Alegre foi invadida pelos farroupilhas, em setembro de 1835, o presidente da Província, Fernandes Braga, seguiu para Rio Grande, assegurando o porto nas mãos do governo imperial. O primeiro óbito, ao eclodir a Revolução Farroupilha, no combate da Ponte da Azenha, foi do jornalista Antônio José Monteiro, o "Prosódia", responsável pelo jornal legalista " O Mestre Barbeiro" (1835).
De acordo com o jornalista e pesquisador gaúcho Sérgio Dillenburg, "O Mestre Barbeiro" foi o menor periódico publicado na imprensa gaúcha: 11 x 16 cm. Em Porto Alegre, o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, fundado em 10 de setembro de 1974, preserva um exemplar original, entre outros títulos relevantes que circularam, nos primórdios da imprensa gaúcha, a partir do surgimento do primeiro jornal, " O Diário de Porto Alegre", fundado em 1º de junho de 1827.
De acordo com os jornalistas Carlos Reverbel (1912-1997) e Elmar Bones, no livro " Luiz Rossetti: o editor sem rosto", no período de 1827 a 1850, circularam em torno de 61 jornais na Província de São Pedro (RS), incluindo os Órgãos Oficiais da República Rio-Grandense: " O Povo" (Piratini / 1838 - 1839 e Caçapava / 1839 - 1840); " O Americano" (1842 - 1843 - Alegrete) e "Estrella do Sul" (1843 - Alegrete).
Após os farroupilhas tomarem a capital da Província, os líderes José Gomes Jardim (1774-1854), João Manuel de Lima e Silva (1805 - 1837) e Onofre Pires (1799-1844) invadiram o Palácio do Governo, não encontrando resistência. No dia seguinte, em 21 de setembro de 1835, Bento Gonçalves da Silva (1788-1847) chegou a Porto Alegre, vindo de Pedras Brancas (atual Guaíba), sendo recebido num clima de comemoração.
Em 15 de junho de 1836, Porto Alegre foi retomada pelos legalistas sob o comando do major Manuel Marques de Souza (1804- 1875), futuro Conde de Porto Alegre, após sua fuga do Presiganga (navio-prisão), ancorado no Guaíba. Apesar dos esforços, os farroupilhas não conseguiram invadi-la, novamente, embora a tenham sitiado, por três vezes, a partir da Vila Setembrina (Viamão). Graças a essa resistência, Porto Alegre recebeu de D. Pedro II, em 1841, o título de "Mui Leal e Valorosa Cidade", que está registrado no Brasão da Cidade, criado pela lei n 1.030, em 22/01/1953. A lei foi assinada pelo prefeito Ildo Meneghetti (1895-1980), sendo o responsável pelo desenho o artista plástico Francisco Bellanca (1895-1974).
O jornalista Walter Galvani, em seu livro "A difícil Convivência (2013", aborda com muita propriedade a situação política de Porto Alegre no contexto da Revolução Farroupilha (1835-1845). Os grandes centros urbanos à época, como Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, permaneceram na maior parte do tempo em poder dos imperiais. A ideia, perpetuada pelo imaginário popular, de que a capital da Província de São Pedro (RS) comungava com os ideais dos farroupilhas, é um equivoco histórico. Existem pesquisas realizadas por historiadores sérios e competentes, como Sérgio da Costa Franco, Sandra Jatahy Pesavento (1945-2009), Helga Piccolo, entre outros nomes importantes, que nos esclarecem acerca da realidade dos fatos que ocorreram naquele período da nossa história.  Afinal,  já se passaram 180 anos?.
Bibliografia
FAGUNDES , Antonio Augusto. Revolução Farroupilha / Cronologia do Decênio Heroico (1835-1845). Porto Alegre: Martins Livreiro, 2008.
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Ediplat, 2006.
LAYTANO, Dante. História da República Rio-Grandense. Porto Alegre: Sulina,1983.
PESAVENTO , Sandra Jathahy. A Revolução Farroupilha. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2014.
VIANNA , Lourival. Imprensa Gaúcha (1827-1852). Porto Alegre: Museu de Comunicação Social HJC, 1977.
 
Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite é pesquisador e coordenador do setor de Imprensa do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.
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