Quem tem medo do Conselho?

Por Márcia Fernanda Peçanha Martins* A polêmica em torno da criação do Conselho Federal e os Regionais de Jornalismo, cujo projeto de lei foi …

Por Márcia Fernanda Peçanha Martins*
A polêmica em torno da criação do Conselho Federal e os Regionais de Jornalismo, cujo projeto de lei foi enviado ao Congresso pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontrava há mais de uma década estagnado no Ministério do Trabalho, parece uma conversa de surdos e mudos. Longe de ser um projeto do Partido dos Trabalhadores (PT), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) ou idéia do próprio presidente Lula, a criação dos Conselhos é uma antiga reivindicação da categoria. Sempre foi uma bandeira da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e dos Sindicatos Regionais.
Na realidade, a criação do Conselho derruba, definitivamente, uma certa onipotência que cerca a categoria dos jornalistas, que sempre se julgou imune a qualquer tipo de julgamento ou nem gosta muito quando os editores mexem no seu texto. Mas, afinal, não somos seres humanos iguais aos outros profissionais que atuam em diferentes áreas e que volta e meia tem seus nomes julgados e culpados pelo exercício incorreto da profissão. Notícia que os jornais nunca omitem, principalmente, em se tratando de caso de erro médico.
Mas, afinal, qual jornalista tem medo do Conselho, que na estória está travestido de Lobo Mau que vai terminar maltratando os três porquinhos, que nem pertenciam a uma turma tão infernal assim? Como nossa categoria de jornalistas. Devem existir, como em qualquer classe profissional, alguns jornalistas que não honram a categoria, que não cumprem as normas mais básicas do trabalho, que não guiam a sua rotina profissional embasados pela consciência ética e respeito.
A grande imprensa, que por diversas vezes mereceria ter sido julgada pelo Conselho Federal do Jornalista, deve estar com medo da sua criação. E alegam, na tentativa sórdida de conquistar adeptos, que se trata de uma iniciativa do Governo Federal para cercear a liberdade de imprensa, que aqui no Brasil está bem mais relacionada ao proprietário do meio de comunicação do que o livre exercício do jornalista de escrever a verdade, sempre amplamente apurada e confirmada por todas as fontes e os envolvidos.
Não estamos mais no tempo da ditadura, em que no lugar das notícias políticas mais importantes, eram publicadas receitas culinárias, ou no tempo da censura, em que um texto era totalmente retalhado. Nenhum cidadão com o mínimo de lucidez da categoria dos jornalistas pode pensar que a criação do Conselho interfere, fere ou prejudica a atividade do bom profissional ou nos remete a tempos passados. O que se deseja, e há muito tempo a categoria luta por isso, é um órgão, assim como têm os médicos, dentistas, economistas, contadores, entre outros, que se empenhe em defender a dignidade e a ética na profissão, já tão aviltada pela contratação de profissionais sem diploma, baixos salários e alta rotatividade.
Caros colegas jornalistas, e não donos de jornais, vamos exercer um pouco a democracia. Não dói. E conhecer melhor o projeto, sua função, suas conseqüências, punições, antes de derrubá-lo por terra com nossa falsa idéia de corporativismo. Vamos discuti-lo, ver onde podemos melhorá-lo, aperfeiçoá-lo, criando um instrumento que assegure ao jornalista cidadão e cumpridor de suas funções uma última instância reguladora. O debate está aberto. Quem sabe aqueles que são contra o Conselho utilizam a mesma eloqüência e analisam a quantidade de erros graves que os veículos de comunicação fizeram nos últimos anos, inclusive prejudicando vidas, justamente por não haver nenhum controlador?
* Márcia Fernanda Peçanha Martins, jornalista formada pela PUCRS, trabalhou no Jornal do Comércio, na Zero Hora e agora atua em assessoria de comunicação social.
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