Relaxando

Por Mario de Almeida Fim de um ano, no meu caso, de muito trabalho. Sentei-me no computador para dar uma relaxada e (quem sabe?) …

Por Mario de Almeida
Fim de um ano, no meu caso, de muito trabalho. Sentei-me no computador para dar uma relaxada e (quem sabe?) relaxar alguns leitores.
Vi a minha neta (3 anos) assistindo com interesse a um bom programa e pensei em José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, figura ímpar na história brasileira de televisão.
Em 1969 eu dirigia, na então Standard Propaganda, o grupo de atendimento da Shell e comandei uma campanha onde os astros eram Os Mutantes. Entreguei a produção dos comerciais ao Luis Augusto de Oliveira - o Guga - irmão do Boni e o resultado desses 5 filmetes faz parte da história da propaganda brasileira. Anos depois, Boni me contou que num deles, em Cabo Frio, quem segurava a câmera, para o irmão, era ele mesmo, em "descanso" naquela praia.
Essa introdução é apenas para situar a condição mais maravilhosa de um profissional de qualquer área e cujo melhor exemplo é o milionário do futebol jogando pelada.
Anos depois, eu trabalhando na Globo, subi no elevador com o Boni e disse-lhe que ele estava assinando memorandos com muitos erros. No primeiro memorando que recebi dele, depois dessa minha observação, havia um rodapé que ele passou a usar: "Este memorando foi assinado sem revisão do signatário".
O publicitário José Roberto Filippelli, durante décadas, chefiou a venda da produção da Globo no exterior. Participou, por acaso, de uma reunião na Globo, Rio, onde Boni se queixou da programação, da exibição de maus filmes infantis. A explicação foi que entre os "pacotes" comprados vinha muita "eme", a que Boni replicou: "Eme se exibe uma só vez, repete tudo que for bom muitas vezes, pois a criançada adora rever o que é bom. Dias depois, Filipa em sua casa, em Londres, quando sua filha caçula reclama da programação infantil, ouve a mesma explicação dada ao Boni e ela ensina: "Eles deviam ficar repetindo só o que é bom".
Numa madrugada fria, no "Antonio?s", havia uma única mesa ocupada por quatro pessoas, entre as quais Boni e eu. De repente, Boni levanta-se, vai ao telefone e, segundos depois, senta-se. Um companheiro não segura a curiosidade e pergunta:
- Telefonou para quem, a essa hora?
- Para a Globo, queria ver se estavam atendendo bem. Estão.
Quando eu estava escrevendo um livro sobre esse bar e restaurante da inteligência carioca, procurei o Boni para que ele desse um testemunho, pois, além de assíduo freqüentador, comandara umas três decorações da casa. Boni convocou Edwaldo Pacote, assessor de imprensa, e combinaram fazer juntos um texto para o livro. O tal texto jamais saiu mas, no papo, Boni me disse: "O Antonio?s é um filme mal montado, sempre exibido fora de foco, mas do cacete. É o Cinema Paradiso dos bares" Essa ficou sendo a última página do livro, onde apenas acrescentei THE END.
Agradeço aos leitores essa oportunidade de relaxar, espero não haver deixado ninguém tenso e quero, para Coletiva e todo o seu universo, um 2004 cheio de oportunidades para se fazer o que se gosta de fazer.
E um maravilhoso THE END para esse fugitivo 2003.
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e co-autor, com Rafael Guimaraens, de "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos)
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