Rio Grande, uma cidade-fantasma?

Por Renato Gianuca Neste final de semana, de sexta até o domingo, dia 14, as amplas avenidas e as estreitas ruas da histórica cidade …

Por Renato Gianuca

Neste final de semana, de sexta até o domingo, dia 14, as amplas avenidas e as estreitas ruas da histórica cidade do Rio Grande mostravam um cenário quase que de desolação: o comércio todo ele fechado, poucos cafés e restaurantes abertos para os turistas que continuam chegando de todas as partes deste Brasil Continente e mesmo de outros países, da África e Europa, além dos indefectíveis hermanos portenhos e uruguaios.


Se Rio Grande serve de ponto de partida para argentinos e orientales, então seria o caso de manter alguma coisa de maior nível para recebê-los. Mas, não: no sábado à noite, já a partir do vasto calçadão da General Bacelar até as vizinhanças dos principais hotéis, apenas o vento forte zunia pelas ruas, com a tradicional poeira e muita areia levantadas pelo forte vento Sul, o chamado "rebojo", como gostam de referir os habitantes mais antigos.


Escrevo isso em referência ao artigo anterior ("Paixões Avassaladoras", Coletiva.Net do dia 09/Janeiro/2007). É fato que alguns de meus cinco ou seis leitores fiéis gostaram de ler o texto. Mas outros me disseram, frente a frente: "Teu bairrismo, misturado às teorias da luta de classes do ancião Marx, mais esses aborrecidos problemas ecológicos, foram insuperavelmente chatos. Vê se muda o disco, tchê!".


Como no chamado "mercado livre" da economia, sigo as regras, obediente: devo cumprir a vontade dos "consumidores" desses subtextos que configuram, helàs, o Jornalismo do dia-a-dia. Mas digo, para defender Rio Grande, sem procurar recair no bairrismo em favor de minha querida cidade natal, que na volta encontro Porto Alegre às escuras. Ao menos no meu bairro próximo ao Centro da Capital gaúcha e seus arredores, a energia elétrica havia faltado das 9h da manhã às 17h. E esse apagão surgiu para o desespero dos que não arredam o pé na TV para ver uma partidinha de futebol, aos domingos, na ausência das "patroas", a desfrutar suas férias merecidas no desolado Litoral Norte do nosso Rio Grande do Sul.


Então, na volta, reencontro outra cidade-fantasma: a própria Porto Alegre, com  os restaurantes fechados, até várias das pizzarias da Avenida Cristóvão Colombo, e os bufês de sorvete lacrados em função da falta de luz. As ruas desertas me recordaram o histórico Rio Grande, deixado à parte após mais de três meses de umas longas férias. Aí me dei conta: todo o nosso Estado sofre, há décadas, talvez séculos, da fúria estival. Quando chega dezembro, logo após a festa familiar do Natal, todo gaúcho e toda gaúcha correm, esbaforidos, para o Litoral. E por litoral, devemos entender o Norte: de Cidreira para cima. Então, milhões de extenuados turistas - nem tão acidentais assim - correm, como manadas enfurecidas, para resgatar o tempo "perdido" durante o ano.


As conseqüências ambientais estão aí mesmo para quem se der ao trabalho de refletir por um breve momento: estradas entupidas, engarrafamentos colossais (em particular para os veranistas de final de semana), ruídos altíssimos dos boys e girls a experimentarem seus novíssimos equipamentos de som acoplados a carros de última geração. E o pior: o lixo urbano e o eterno problema dos esgotos inexistentes.


Deve, mesmo, ser algo atávico do gaúcho: procurar o Sol. Mas, um instante, pessoal: esse Sol não é aquele do qual devemos nos proteger? E o aquecimento global não é um fato bem concreto? E a camada de ozônio já não está pairando sobre o eixo Porto Alegre-Tramandaí-Capão da Canoa? Podem ser avisos alarmistas, dizem os menos sensatos.


Mas é preciso maneirar, acredito: vamos com mais vagar, tanto na alimentação como no próprio estilo de vida. É preciso seguir o lema dos antigos militantes do Maio de 1968, na França: "Nossas vidas valem mais que o lucro dos patrões". Só que esta é uma longa discussão que remete às reclamações acima citadas. Daqueles que imaginam viver para o presente, tão-somente. "Nossos filhos e nossos netos que se virem", diriam eles, com seu desprezo por valores antigos, mas ecologicamente mais corretos. Era isso, aí, por enquanto, só para agradecer o apoio e a confiança de toda a "tchurma" rio-grandina, em sua eterna luta como autênticos "papa-areia" para desfraldar bandeiras esquecidas. Ou, então, engolidas pela corrida dos insensatos que se vê todos os dias, aqui mesmo nessa nossa Capital de todos os gaúchos.

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