Roquette Pinto e o rádio no Brasil

Por Tiago Eloy Zaidan Não é preciso ser naturalista para perceber que há algo em comum entre as espécies Endodermophyton Roquettei (um parasito da …

Por Tiago Eloy Zaidan
Não é preciso ser naturalista para perceber que há algo em comum entre as espécies Endodermophyton Roquettei (um parasito da pele), Alsophila Roquettei (uma planta), Roquettia Singularis (uma aranha), Phyloscartes Roquettei (pássaro da região central do Brasil) e Agria Claudia Roquettei (uma borboleta). Nestes casos, os nomes escolhidos homenageiam o cientista fluminense Edgard Roquette-Pinto (1884-1954).
O homenageado foi médico legista - formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro -, antropólogo e etnólogo. Também foi professor e, como tal, lecionou antropologia no Museu Nacional (1906), História Natural na Escola Normal do Distrito Federal (1916) e Fisiologia na Universidade Nacional do Paraguai (1920).
Como antropólogo, integrou a epopéica missão Rondon, em 1912, percorrendo os reconditos do Brasil, e publicou obras de destaque, como o livro Rondônia: antropologia etnográfica (1917). Invejavelmente ativo, o cientista ocupou os cargos de diretor do Museu Nacional (1915 - 1936), Instituto nacional do Cinema Educativo (1937) - entidade fundada por ele próprio - e do Instituto Indigenista Americano do México (1940).
Roquette-Pinto lançou ainda os livros Ensaio de antropologia brasileira (1933), Seixos rolados (1927, ano em que é eleito para Academia Brasileira de Letras) e Estudos Brasilianos (1941), e o documentário Argila (1940). Contudo, em meio a uma biografia tão recheada, é possível que o seu maior feito tenha sido o de cofundar a primeira emissora de rádio do Brasil.
A rádio Sociedade



Coube a Edgard Roquette Pinto e ao também cientista Henry Moritze a idealização de um projeto de difusão educativo-cultural através do rádio. Iniciativa que redundou na criação da primeira emissora brasileira, a Sociedade do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1923 - vinculada à Academia Brasileira de Ciências, entidade da qual faziam parte os seus fundadores e membros, que sustentavam a emissora por meio de contribuições.
Já em 1925, a Sociedade apresentava programas instrucionais de Geografia, História do Brasil, higiene, Silvicultura, Química, História Natural e Física. Também apresentava jornais, dentre eles o emblemático Jornal da Manhã, comandado pelo próprio antropólogo. Os cientistas, aliás, eram os responsáveis pelos programas.
Em São Paulo, por seu turno, pouco depois do surgimento da emissora carioca, foi criada a Sociedade de Rádio Educadora Paulista (30 de novembro de 1923), com ideais e propósitos semelhantes.
Apesar do início alentador, cheio de idealismo, havia inconvenientes concretos. A restrição do poder aquisitivo - e a consequente restrição dos ouvintes - era só o começo. Além de taxas governamentais e de contribuição à emissora, os pretensos ouvintes precisavam superar uma jornada burocrática que inclui até mesmo a confecção de um projeto com o traçado do receptor.
Maria Elvira Federico - em seu História da Comunicação: rádio e TV no Brasil - faz saber ainda que, no bojo dos dispositivos legais que instituíram o controle estatal - marcadamente através das concessões -, tornou-se estabelecida a "(?) necessidade compulsória de aperfeiçoamento das instalações e equipamentos para a estabilização de frequências". Tais imperativos acabaram restringindo o surgimento de novas emissoras, ao passo que coadunaram com a concentração dos meios ligados ao poder econômico. Nesse sentido, emissoras como a Sociedade do Rio de Janeiro, de caráter amador-associativo, tornaram-se inviáveis. Em 1936 a rádio Sociedade foi doada ao Ministério da Educação, dando origem à rádio MEC.
A mídia rádio, porém, jamais sairia dos ouvidos e dos corações brasileiros.
Tiago Eloy Zaidan integrou o projeto de popularização e difusão da ciência e tecnologia da Coordenadoria de Ensino de Ciências do Nordeste da Universidade Federal de Pernambuco (CECINE / UFPE). É mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal de Pernambuco, coautor do livro Mídia, movimentos sociais e direitos humanos (Organizado por Marco Mondaini, Ed. Universitária da UFPE, 2013) e professor do curso de Comunicação Social na Escola Superior de Marketing (ESM - FAMA / Recife, PE).

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