Sem freada de arrumação

Por Angela Girardi * O encontro anual dos pesquisadores em Comunicação em Porto Alegre, nessa semana, com seu timing perfeito, parece obra de marketing. …

Por Angela Girardi *
O encontro anual dos pesquisadores em Comunicação em Porto Alegre, nessa semana, com seu timing perfeito, parece obra de marketing. Em época de discussão sobre liberdade de palavra, vêm bem a calhar reflexões sobre essa que é a base da vida em sociedade.
Como "comunicação não é o que você diz, mas o que o outro entende", segundo opinião de especialistas, a preocupação não é só com o que se diz, mas para quem, como e onde se diz. Afinal, o outro é co-autor do meu texto. Se escrevo para ele, ele molda o meu texto e lhe dá sentido. Quando usada em escala pública, a comunicação tem que ser, sempre, transparente, consistente, sistemática, coerente com a prática e pluridirecional. Assim, moradores entendem seu papel e amam sua cidade, funcionários brigam por sua empresa, cidadãos assumem seus deveres e lutam por seus direitos.
Precisamos mesmo nos encontrar e discutir, compreender e melhorar o processo, fazê-lo funcionar a nosso favor, seja em que circunstância for, até mesmo para saber ouvir, argumentar e silenciar aqueles que se opõem a compartilhar. Porque comunicar é compartilhar, pôr em comum. E não é isso o que se procura no nosso país? Melhora da auto-estima, progresso tecnológico, justiça social, emprego para todos, cidadania plena, inserção no mundo desenvolvido?
O Congresso é um espaço e um momento em que se conhecem as experiências que o país vive nas suas diferentes regiões e atividades. É oportunidade de se criarem soluções com a nossa marca.
Evidentemente, há fenômenos de comunicação que, por serem fenômenos, superaram as questões técnicas sobre as quais nos debruçaremos essa semana, como o time aí da casa, o Quintana, os Veríssimos, a Lia, o Caio, o Scliar, o Simões. Esses compartilham com todo mundo seu mundo que passa a ser o nosso: "Isso até parece coisa do Veríssimo", " a Lia já falou disso", " passo o ano com o Quintana na agenda" e por aí vai.
Quanto aos demais passageiros deste ônibus chamado Brasil, o jeito é trocar idéias, informação, práticas, para que a arrumação se dê entre nós mesmos e não se precise daquela "freada de arrumação" do motorista do veículo.
A comunicação nunca está completa, ela é processo e precisa de cuidados constantes: checar a mensagem que chega, reorganizar-se a partir do feedback que se recebe dos outros e das coisas, adaptar-se aos novos contextos, retornar a mensagem ao mundo. E é isso que estaremos fazendo no Congresso de Ciência da Comunicação. Como nas placas em obras públicas, pede-se.
* Angela Girardi é professora pesquisadora da Escola de Comunicação Social e da Escola de Marketing do Centro Universitário da Cidade - Universidade (RJ). O seu projeto, "Falas do presidente: um retrato 3 X 4 da organização" foi selecionado para ser apresentado nesta sexta-feira sobre importância no Intercom 2004, às 14h, na PUC.
[email protected]

Comentários