Semelhanças entre Brasil e África?

Por Gil Kurtz, para Coletiva.net

Sim, o continente africano e o nosso País têm muitas semelhanças, desde aspectos culturais herdados do período colonial como também aspectos geográficos. Podemos citar as extensas áreas florestais: nós, a Floresta Amazônia; lá, a Floresta Equatorial do Congo. Os maiores rios do mundo, também, é algo comum: Amazonas e no continente o Congo.

Você deve estar pensando: esse espaço é voltado para temas de comunicação, propaganda e branding e o autor vem com semelhanças geográficas entre Brasil e África? Por favor, continue lendo e chegaremos lá.

Começo falando dos Gupta, uma família multimilionária indiana que "manda" na África do Sul e é suspeita de ter explorado sua amizade com o presidente Zuma para sonegar impostos, influenciar na nomeação de ministros, e claro, garantir contratos com o governo. Não, não estou me referindo a uma família baiana. Aliás, essa é outra semelhança entre nosso País e o continente africano. Tem mais outra: em junho do ano passado, o site The Daily Maverick noticiou que a família e dirigentes das empresas trocaram centenas de e-mails entre si e que demonstravam o quanto estes se beneficiavam das relações com o governo sul-africano. Até agora, ainda não surgiram as planilhas com apelidos, mas devem surgir logo.

Enquanto isso, o grupo empresarial já paga por suas práticas que rasgam as mais elementares regras de compliance. Os quatro maiores bancos da África do Sul encerraram as contas de empresas controladas pelos Gupta.

Dito isso, quem já foi devidamente penalizado por práticas pouco contemporâneas tanto da família quanto do governo? A McKinsey, a maior consultoria do mundo.

Como foi noticiado, no início desse mês, o braço sul-africano da Coca-Cola veio a público comunicar que deixou de trabalhar com a referida consultoria fruto de a mesma estar envolvida num escândalo político naquele país. A maior fabricante mundial de refrigerantes e sua engarrafadora não irão mais contratar a consultoria até que sejam concluídas as investigações sobre possível corrupção.

Portanto, caro leitor e leitora, o mundo mudou. Mesmo que a empresa não tenha cometido nenhum "erro" com a empresa de refrigerantes, ela cometeu um maior: esqueceu que imagem e reputação são fundamentos básicos no novo mundo monitorado pelas plataformas digitais e regras de compliance simples, mas inegociáveis. Dá pra imaginar as empresas do grupo Gupta sem conta bancária e uma renomada empresa de consultoria fazendo vistas grossas para práticas antiéticas de seus clientes? Não deu outra, a míope pagou rápido por essas práticas: perdeu a Coca-Cola. Certamente no século XX as coisas teriam um "jeitinho". Mas agora não. Independentemente do tamanho de sua empresa ou marca suas práticas éticas serão consideradas normais, o contrário poderá levar sua empresa e marca ao lixo corporativo.

Gil Kurtz é publicitário, especialista em Gestão de Conflitos e Crises e diretor da Vossa Estratégia e Comunicação.

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